S de solidão
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Solidão é uma palavra obscena. É mesmo a única palavra irremediavelmente obscena de que já ouvi falar. Cheira a atropelos, pudor, colhões, e tenho medo. Medo – um homem pode dar por si a cometer crimes sem grandeza. Assassinar, por exemplo. Princípios superlativamente adolescentes. Prefiro a decomposição da pele, uma taberna entre cabeços, o petróleo de candeeiros que projectem sombras imóveis, recantos, pequenos estrumes. E já agora, se me dão licença, um frio de certo modo inculto a bater no vidro da janela, nos ossos, talvez nos ossos, quando se acaba o dinheiro. Mas é humano, bárbaro e humano. Uma espécie de sinfonia entregue ao poder de cada qual, arrecadações da alma, mansas. E dardejante o círculo azul de um copo de aguardente, aguardente, imagine-se, a saltar dentro de si, a subir, a subir, e um homem dizer, imortal: senta-te, copo. Bebe comigo. E ele senta-se e bebe. É remoto, quase no outro lado das trevas. Mas magnífico, oh, tão magnífico. E ainda há quem me fale de escritores, romances, e até de revoluções. Balelas. Quero uma nora que pare o mundo rente ao fogo do inferno. E a água detida, doente, de preferência afogada pela mão de Deus a arder. Nada de riscos. Eis do que falo. Precário, inviolado, entregue ao soalho.
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[José Amaro Dionísio, in A Perspectiva da Morte: 20 (-2) Poetas Portugueses do Século XX (selecção e prefácio de Manuel de Freitas), Assírio & Alvim, 2009]
29.11.10
17.11.10
16.11.10
Apanhar Ar
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(clicar para aumentar)
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Apanhar Ar, de Adília Lopes, é hoje apresentado na livraria da Assírio & Alvim.
12.11.10
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A PREGUIÇA
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A alma adora nadar. Para nadar, há que deitar-se de barriga. A alma despega-se e parte. Parte a nadar. (Se a vossa alma parte quando estais de pé, ou sentados, ou de joelhos, ou apoiados nos cotovelos, para cada posição corporal diferente a alma partira com uma locomoção e uma forma diferentes, segundo concluirei mais tarde).
Fala-se muito em voar. Não é isso. O que ela faz é nadar. E nada como as serpentes e as enguias, nunca de outro modo. Há imensa gente que tem assim uma alma que adora nadar. Chamam-lhes vulgarmente preguiçosos. Quando a alma deixa o corpo pelo ventre para nadar, produz-se uma tal libertação de sei lá o quê, é um abandono, um gozo, uma descontracção tão íntima.
A alma parte a nadar no vão das escadas, ou na rua, consoante a timidez ou a audácia do homem, porque ela conserva sempre um fio que a une a ele, e se esse fio se quebrasse (às vezes é muito fino, mas só uma força terrível o poderia romper) seria terrível para eles (para ela e para ele).
Então, quando ela está entretida a nadar ao longe, escoam-se, por esse simples fio que liga o homem à alma, volumes de uma espécie de matéria espiritual, como lama, como mercúrio, ou como um gás – gozo interminável.
É por isso que o preguiçoso é incorrigível. Nunca mudará. É por isso que a preguiça é a mãe de todos os vícios. Pois acaso haverá coisa mais egoísta do que a preguiça?
Tem fundamentos que o orgulho não tem.
Mas as pessoas irritam-se com os preguiçosos.
Quando os vêm deitados, batem-lhes, mandam-lhes água fria à cabeça, eles têm de recolher a alma imediatamente. Olham-vos então com esse olhar de ódio, bem conhecido, que se vê sobretudo nas crianças.
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[Henri Michaux, in Antologia, Relógio D’Água, 1999]
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A alma adora nadar. Para nadar, há que deitar-se de barriga. A alma despega-se e parte. Parte a nadar. (Se a vossa alma parte quando estais de pé, ou sentados, ou de joelhos, ou apoiados nos cotovelos, para cada posição corporal diferente a alma partira com uma locomoção e uma forma diferentes, segundo concluirei mais tarde).
Fala-se muito em voar. Não é isso. O que ela faz é nadar. E nada como as serpentes e as enguias, nunca de outro modo. Há imensa gente que tem assim uma alma que adora nadar. Chamam-lhes vulgarmente preguiçosos. Quando a alma deixa o corpo pelo ventre para nadar, produz-se uma tal libertação de sei lá o quê, é um abandono, um gozo, uma descontracção tão íntima.
A alma parte a nadar no vão das escadas, ou na rua, consoante a timidez ou a audácia do homem, porque ela conserva sempre um fio que a une a ele, e se esse fio se quebrasse (às vezes é muito fino, mas só uma força terrível o poderia romper) seria terrível para eles (para ela e para ele).
Então, quando ela está entretida a nadar ao longe, escoam-se, por esse simples fio que liga o homem à alma, volumes de uma espécie de matéria espiritual, como lama, como mercúrio, ou como um gás – gozo interminável.
É por isso que o preguiçoso é incorrigível. Nunca mudará. É por isso que a preguiça é a mãe de todos os vícios. Pois acaso haverá coisa mais egoísta do que a preguiça?
Tem fundamentos que o orgulho não tem.
Mas as pessoas irritam-se com os preguiçosos.
Quando os vêm deitados, batem-lhes, mandam-lhes água fria à cabeça, eles têm de recolher a alma imediatamente. Olham-vos então com esse olhar de ódio, bem conhecido, que se vê sobretudo nas crianças.
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[Henri Michaux, in Antologia, Relógio D’Água, 1999]
8.11.10
Clássicos russos na Relógio D' Água
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"A Relógio D’Água prossegue, nos próximos meses, a publicação de clássicos russos, como Turguénev, Tolstói, Dostoievski e Tchékhov. Trata-se de autores surgidos no período de criação literária mais fecundo de sempre, ou seja, na Rússia que vai da libertação dos servos à revolução de 1905.
De Turguénev, e depois da novela Águas da Primavera sairá, ainda este ano, o último romance que escreveu, Solo Virgem, em tradução do russo de Manuel de Seabra.
Os Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoievski e Guerra e Paz de Lev Tolstói estão a ser traduzidos por António Pescada, tendo edição prevista para o primeiro semestre de 2011.
De Tchékhov será publicado A Ilha: Uma Viagem a Sakhalin. É a narrativa de viagens que o então jovem médico Tchékhov fez aos condenados em Sakhalin, um local remoto onde apenas se aguardava a morte.
Do até agora inédito em Portugal Saltykov-Shchedrin acaba de sair A Família Golovliov, com um prefácio de James Wood, que considera este romance «cada vez mais moderno com a passagem do tempo».
A lista de clássicos russos é completada com Petersburgo de Andrei Béli em tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra. O romance foi considerado por Vladimir Nabokov o terceiro mais importante do século XX, logo a seguir a Ulisses de Joyce e Metamorfose de Kafka e antes de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust."
De Turguénev, e depois da novela Águas da Primavera sairá, ainda este ano, o último romance que escreveu, Solo Virgem, em tradução do russo de Manuel de Seabra.
Os Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoievski e Guerra e Paz de Lev Tolstói estão a ser traduzidos por António Pescada, tendo edição prevista para o primeiro semestre de 2011.
De Tchékhov será publicado A Ilha: Uma Viagem a Sakhalin. É a narrativa de viagens que o então jovem médico Tchékhov fez aos condenados em Sakhalin, um local remoto onde apenas se aguardava a morte.
Do até agora inédito em Portugal Saltykov-Shchedrin acaba de sair A Família Golovliov, com um prefácio de James Wood, que considera este romance «cada vez mais moderno com a passagem do tempo».
A lista de clássicos russos é completada com Petersburgo de Andrei Béli em tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra. O romance foi considerado por Vladimir Nabokov o terceiro mais importante do século XX, logo a seguir a Ulisses de Joyce e Metamorfose de Kafka e antes de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust."
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[do blog da Relógio D' Água]
6.11.10
4.11.10
Mário Cesariny na Relâmpago
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(clicar para aumentar)O número 26 da revista Relâmpago é dedicado à poesia de Mário Cesariny. O lançamento é hoje, às 18.30, na livraria da Assírio & Alvim, com apresentação de Fernando Cabral Martins. Serão lidos alguns poemas de Cesariny pelos actores Eurico Lopes e Paulo Pires.
3.11.10
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