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José Rodrigues Miguéis é um dos grandes nomes da literatura portuguesa do Século XX, mas infelizmente bastante esquecido. Aliás, mesmo em vida, nunca teve o reconhecimento do público e da crítica que mereceram muitos dos seus contemporâneos (alguns, escritores absolutamente menores). Possivelmente, o facto de Miguéis ter vivido grande parte da sua vida fora de Portugal (em Nova Iorque, sobretudo, onde esteve cerca de 40 anos) muito contribuiu para isso.
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O Milagre Segundo Salomé, romance muito extenso (publicado em dois volumes), era considerado por Miguéis o seu melhor livro, mas desgraçadamente foi recebido com absoluta indiferença. Estávamos em 1975, em pleno PREC, e ninguém em Portugal tinha tempo nem paciência para livros desta dimensão. Se tivesse saído um anos antes poderia ter sido um grande sucesso, mas naquela altura isso não aconteceu, para grande desgosto do autor.
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Trata-se de um romance que retrata muito bem a sociedade lisboeta das primeiras décadas do Século XX, sobretudo a decadência dos valores republicanos. Miguéis dá-nos uma visão alternativa e anticlerical para os acontecimentos de Fátima (Meca, no romance), relacionando-os com a ascensão das mentalidades e ideologias (o fascismo e os mitos sebastianistas dos militares) que acabariam por gerar o colapso da Primeira República a 28 de Maio de 1926.
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A personagem central é uma espantosa Salomé, chegada da província muito nova, e com um percurso que passa por um bordel, pela ascensão à alta sociedade lisboeta pela via do seu casamento com Zambujeira, um riquíssimo self made man da finança republicana, e culmina com uma participação nos “milagres”.
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O Milagre Segundo Salomé está publicado na Estampa, em dois volumes.
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