31.7.07

As Praias de Portugal

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As Praias de Portugal – Guia do Banhista e do Viajante é um livro maravilhoso, de Ramalho Ortigão, cuja primeira edição data de 1876.
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Trata-se de um roteiro das principais praias portuguesas da época, que Ramalho retrata com o seu estilo característico. Passamos assim por praias como a Foz, Granja, Vila do Conde, Espinho, Ericeira, Nazaré ou Figueira da Foz.
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Veja-se como exemplo estas deliciosas observações de Ramalho sobre a Figueira:
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“O viajante sente ao entrar na Figueira, no tempo dos banhos, uma impressão semelhante à que se experimenta penetrando nos gerais da universidade em dia lectivo. É a impressão do lente, do pedagogo, da aula. Tem-se uma espécie de terror mesclado de tédio. Há uma atmosfera especial de pedanteria, de rigor e de troça. Aspira-se vagamente o cheiro dos sapatos e das velhas batinas gordurosas na aula quente e fechada. As fisionomias dos doutores, de uma grave expressão enfática, guindada e oca, as cabeleiras dos estudantes aparatosamente penteadas, os ares dogmáticos de uns, misturados com os ares patuscos de outros, um tom geral de prelecção ou de desfrute, uma tonalidade especialmente afectada na pronunciação, um desgarre peculiar de gestos e de maneiras: tais são as principais notas que caracterizam a população de Coimbra.”
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“A Figueira participa do carácter que tem Coimbra, um pouco para pior, porque os estudantes que frequentam a Figueira são ordinariamente os piores, os mais broncos, os que não saem de Coimbra, aqueles em quem os efeitos do vício universitário se desenham mais profundamente. Estes senhores com o seu afectado desdém, com o seu mau ar de críticos, com o seu espírito de troça, e os srs. professores com a sua sobranceria catedrática, constituem o grande senão da sociedade da Figueira, sobre a qual destingem a sua cor especial.
E, não obstante, nenhuma outra praia em Portugal possui as condições desta para tornar agradável a estação dos banhos.
Batida do grande mar, tendo à direita a bonançosa baía de Buarcos e à esquerda os rochedos em que assenta o castelo de Santa Catarina, que defende a foz do Mondego, a vila da Figueira oferece aos banhistas incomparáveis condições.”


Escusado será dizer que o mapa das praias mais importantes à época pouco coincide com o actual. A sul de Setúbal não temos qualquer praia e sobre isso Ramalho nem sequer faz qualquer referência. Por outro lado, algumas praias são hoje impraticáveis ou inexistentes, como a Torre (em Belém), Pedrouços, Algés ou Porto Brandão. Esta última está incluída num capítulo intitulado Praias Obscuras, onde Ramalho inclui também praias como Costa Nova, São Pedro de Moel ou São Martinho do Porto.
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O livro é ainda acrescido de uns curiosos capítulos com indicações e conselhos: O Tratamento Marítimo, Precauções Higiénicas, Socorro aos Afogados e Reconstituição dos Temperamentos e dos Carácteres pelo Banho Frio (Conselhos às Mães).

Praias de Portugal foi reeditado em 2002 pela Frenesi, uma edição bonita e cuidada.

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