you are welcome to elsinore
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Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte…..violar-nos…..tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas…..portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
.
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida…..há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
.
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mão e as paredes de Elsinore
.
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
.
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
.
[Mário Cesariny, in Pena Capital, Assírio & Alvim, 2004]
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