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"O caminho entre a EXPO e o Terreiro do Paço, que se chamou "caminho do Oriente" e se previa rasgado e aberto, está novamente fechado e vedado. Arame farpado, contentores, armazéns, montanhas de areia e um rio proibido. A EXPO é um subúrbio fisicamente desligado da cidade, não existe continuidade estética. Na zona de Belém, o Porto de Lisboa resolveu, no que chama projecto de "requalificação", construir um mamarracho, não muito longe dos Jerónimos e da Torre de Belém, que é um atentado à paisagem e que tapa o rio. Eu espero que o monstro seja demolido, como deve ser. Espero também que esta Câmara meta o Porto de Lisboa na ordem, o que nenhuma administração da cidade até hoje conseguiu fazer, e espero que o Governo perceba que, se não libertar o rio mata a cidade. Caminhando então para a EXPO, verificamos que a marina, projecto no qual foram investidos milhões, entrou em falência. Nem restaurantes, nem cafés, nem barcos, nada. Tudo está deserto e o vento faz estremecer a água do rio e sopra nos pontões que destilam abandono e melancolia. Junto ao Oceanário, o deserto avança. Raros e maus restaurantes, quase nenhumas esplanadas, e uma frente ribeirinha desaproveitada. Ao optar por instalar um centro comercial gigante no meio do recinto, isto tinha que acontecer. O centro comercial sugou toda a vida das ruas e das imediações, e toda a gente converge para a luz artificial e as lojas e restaurantes, deixando de lado um espaço ao ar livre que está vazio e rodeado de casas. Quanto às casas, a arquitectura é má, às vezes péssima, e não transcende a arquitectura de subúrbio com "upgrade" para burgueses."
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[Clara Ferreira Alves, no Expresso desta semana]
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