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"em tempo de crise do preço dos combustíveis e de aquecimento global, há que acarinhar o transporte público"
[...]
"Para muita gente, sobretudo da burguesia urbana, o autocarro é um desconhecido porque é um tabu. Como se ao colocar o primeiro pé na coisa se perdesse estatuto social na hora."
[...]
"o nosso “modelo de desenvolvimento” (gasp! cóf, cóf!) privilegiou o carro e a gasolina. Hoje muita gente não pode prescindir do carro, é certo. Mas será mesmo assim? E quem tem estações de comboio praticamente à porta? E quem, vivendo em Lisboa, se desloca de qualquer modo de carro? Não desprezo a existência de necessidade automóvel para muita gente, mas desprezo e desconfio de duas coisas: desprezo a discussão constante sobre “o trânsito” como um problema quase da ordem da natureza e cuja resolução é transformada em prioridade política para que haja trânsito e não para que haja substituição pelo transporte público; e desconfio que a razão última do amor ao carro seja mesmo estatutária e simbólica, sobretudo para as gerações do deslumbramento, do “modelo de desenvolvimento” terceiro-mundista dos últimos 30 anos. O carro - e a autonomia que ele dá (dá mesmo?) - é o símbolo da superação da pobreza.
Não é por acaso que Lisboa é a cidade europeia onde mais se sente a presença dos carros: nas ruas, nos passeios, no ruído, na poluição. Não é por acaso que por cá a publicidade está saturada de automóveis, as conversas sobre automóveis abundam e as pessoas medem-se mutuamente pelos carros. Pela parte que me toca tenho um chaço velho e sujo, parado a maior parte do tempo e faz-me uma impressão horrível imaginar pagar milhares de euros por um objecto que desvaloriza no minuto seguinte. Não fossem os nossos governantes muito provavelmente auto-deslumbrados também eles, e poderíamos ter uma revolução cultural, inspirada “no estrangeiro” (outro deslumbramento, mas com certeza com bons resultados e por boa causa), onde a palermice do auto-status foi já substituída pela auto-nomia dos cidadãos que andam a pé, flanam, param nas montras, saltam para o autocarro e descem ao metro, meditando cidade fora."
[Miguel Vale de Almeida em post n' Os Tempos que Correm]
1 comentário:
O Presidente da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis recomenda a compra de uma bicicleta.
http://diario.iol.pt/economia/combustiveis-filas-portugal-postos-anarec/961393-4\
058.html
Saiba como utilizar a bicicleta na cidade:
http://bicicletanacidade.blogspot.com/
http://100diasdebicicletaemlisboa.blogspot.com/
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