28.1.09

Milly chéri
tenho coisas
para te dizer
de viva voz
cartas de amor
nunca mais
agora só escrevo
cartas comerciais
.
Não quero
ter filhos
gosto muito
de foder
contigo
e com outros
mas de bebés
não gosto
uma vez
por outra
tem graça
mas sempre
não
os bebés deprimem-me
se engravidar
faço abortos
por muito
que me custe
e custa-me
muito
(um bebé é dom
do Espírito Santo)
.
Ficas
no castelo de Beja
e eu aqui
no convento
com vento
(as janelas
fecham mal
estão empenadas)
há uma passagem
subterrânea
como nos romances
que liga
castelo e convento
podemos fechá-la
não te quero
no convento
o outro é o Céu
com peúgas
e cuecas sujas
.
Antes de chegares
pensava assim
mesmo que Milly volte
não quero foder
nunca mais quero foder
o feitio da unhas dos pés
e a implantação dos cabelos
na nuca
do meu Milly chéri
mais tarde
ou mais cedo
vão-me meter nojo
nunca mais danço
nunca mais dou beijos
mas quem não pensa
em foder
está fodido
mas agora
quero foder contigo
.
Portanto Milly chéri
és muito bem vindo
a mulher (eu)
deixa
pai e mãe
e apega-se
ao homem (tu)
e são ambos
uma carne
.
Lisbonne-mars 2000
.
[Adília Lopes, in Obra, Mariposa Azual, 2000]

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