12.5.09

Livros de Lisboa: "A Escola do Paraíso" por Pedro Mexia

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José Rodrigues Miguéis A Escola do Paraíso, Editorial Estampa, a 5 Euros na Feira do Livro
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"José Rodrigues Miguéis (1901-1980) disse que estava apostado em suprir o hiato entre Eça e os neo-realistas. Queria escrever num registo realista já não oitocentista mas também não estreitamente programático. Cumpriu o seu intento, deixando uma importante obra ficcional eivada de um realismo crítico e irónico, hábil nos mecanismos narrativos e desenvolta nos diálogos e na caracterização psicológica. Escreveu novelas de suspense e angústia dostoievskiana, retratos das gentes exiladas (foi viver para os Estados Unidos em 1935) e crónicas lisboetas. É um dos mais importantes contistas portugueses. No romance, atingiu o auge com A Escola do Paraíso (1960), exemplo notável de retratismo socialmente atento e socialmente empenhado, depois prolongado, com intenção mais paródica em O Milagre Segundo Salomé (1975).
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O narrador de A Escola do Paraíso é uma criança, Gabriel, que testemunha o mundo do fim da Monarquia e advento da República: o regicídio e a agitação revolucionária, mas também os adultérios burgueses e o aparecimento do automóvel. A acção decorre numa Lisboa de lojistas e meninas prendadas, numa Lisboa de infância que corresponde em grande medida às memórias de Miguéis.
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A Escola do Paraíso é um estudo da pequena burguesia lisboeta como classe em que mais se notam as convulsões políticas e as mudanças comportamentais. É por isso uma elegia melancólica e vitalista das ruas de Lisboa. Miguéis faz do realismo uma forma de escrita acessível, ágil, aberta a pequenos esquissos ou a modulações poéticas, e em vez de optar por um realismo de interiores, importante na tradição portuguesa, põe as personagens constantemente nas ruas, tornando assim a rua uma personagem por direito próprio, não apenas na medida em que a rua é o palco constante da vida quotidiana mas porque naquele momento, como noutros, a rua se tornava sujeito histórico. É na rua que as coisas acontecem.
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Texto de um exilado nostálgico mas genuinamente entusiasmado com a mudança e o caos criativo, A Escola do Paraíso é um clássico algo esquecido do cânone português. O Milagre Segundo Salomé foi adaptado ao cinema por Mário Barroso, mas A Escola do Paraíso também pede cinema, porque é um romance cinematográfico, móvel e às vezes febril. Enquanto não aparecem as anunciadas reedições na Assírio & Alvim, a ficção de José Rodrigues Miguéis, editada pela Estampa, está ao preço da chuva nas Feiras."
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[Pedro Mexia, Time Out, 06-05-2009]

1 comentário:

candida disse...

:) o paraíso do diabo sorridente
chuac