29.11.09

Luiz Pacheco: 1 Homem Dividido Vale por 2

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Até 27 de Fevereiro, pode ser vista na Biblioteca Nacional a exposição "1 homem dividido vale por 2", com cartas, postais, folhetos, textos avulsos, livros editados e muitos outros materiais de Luiz Pacheco. O catálogo, editado pela Dom Quixote, estará à venda a partir de 7 de Dezembro.

20.11.09

Luiz Pacheco: a entrevista à Visão em 2005

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Em 2005, a propósito do lançamento de Diário Remendado 1971-1975 (Dom Quixote), Pedro Dias de Almeida entrevistou Luiz Pacheco para a Visão (nº 652, de 1 de Setembro). Deixo-a aqui:
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GUERREIRO PACHECO
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Há três anos que não sai do 1º piso do lar da Liga dos Amigos dos Hospitais, no Príncipe Real, em Lisboa. Mas, 80 anos cumpridos, Luiz Pacheco resiste e enfrenta o mundo com os argumentos de sempre: humor, ironia, desassombramentos, inconveniências, liberdade. O libertino, esse, ficou para trás. Os textos inéditos de Diário Remendado 1971-1975 revelam mais sobre um percurso único na história da literatura portuguesa.
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Como companhia recente, Luiz Pacheco tem um novo rádio – «desses chineses, com leitor de CDs». Mas por enquanto só tem dois discos: um de Bach outro de Stravinski. Na rádio gosta de ouvir as entrevistas da TSF e Antena 1 e a música da Antena 2. Como os seus olhos pioram «de dia para dia» e não lhe permitem saídas nem leituras, é a essa máquina, e às conversas com amigos e familiares, que vai buscar uma ligação ao mundo. Nem sequer a janela – com vista, de esguelha, para o Tejo – lhe devolve o entusiasmo pela vida da cidade. Mas, calma, que Pacheco não é dado a saudades, nostalgias – e, muito menos, a arrependimentos. Nas páginas de Diário Remendado 1971-1975 (Publicações Dom Quixote), nas livrarias na próxima semana, uma das obsessões do escritor, editor e tradutor (além da literatura, do sexo, amizades e inimizades...) é a sistemática falta de dinheiro para pagar a renda da célebre «casa de Massamá» no fim do mês. Como se vê nesta entrevista, Luiz Pacheco não mudou assim tanto nestes 30 anos...
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VISÃO: Quando lê estes fragmentos da sua vida em forma de diário reconhece-se ali?
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LUIZ PACHECO: O pior é que não leio, aí é que está a gaita! Já não vou ler nada disso... Isto que vai ser editado é um fragmento, porque o diário começou no dia 1 de Janeiro de 1970, estava eu no Hospital de Santa Marta. Passavam-se semanas em que eu não escrevia nada, depois quando me dava para escrever, escrevia. E nunca lia o que estava para trás. Por vários acasos, há uns três anos, uma senhora de Coimbra trouxe, a meu pedido, uma parte do diário, fotocopiada e passada à máquina. Já não lia muito bem – mas lia melhor do que hoje – e estive aqui a desfibrar... Quando havia uma coisa que me chateava, ou que não tinha interesse nenhum, cortava o dia todo, logo. Reduzi aquilo a duas partes. O meu filho entregou as duas à Dom Quixote e tenho a impressão que meteram no livro bocados da parte que eu cortei... O que não tem grande mal.
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Mas admira esta personagem, o Luiz Pacheco no início dos anos 70?
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Oh pá, há coisas que acho bem, mas há outras que acho muito mal. Tinha nessa altura um problema sério que era o alcoolismo. Estive duas vezes internado no Júlio de Matos e uma vez em Coimbra – desintoxicação a sério, com tratamento. Saía, e estava assim uns meses sem beber, e depois recomeçava. É claro que isto me foi cansando. Mas eu também não bebia bebidas muito finas. Whisky bebi uma vez ou duas, não gosto nada, bagaço fazia-me muito mal, de maneira que era o chamado tintol da taberna e a cerveja. Não são bebidas muito alcoolizadas. É claro que não comendo, e estando a tomar drogas, como o Valium e outras porcarias, havia dias em que não gravava nada, há muitos dias em que não me lembro de nada. Nada. Mas não foi mau de todo, não foi mau de todo...
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Tem saudades desses tempos da «casa de Massamá»?
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Não é saudades, mas eram outros tempos... Tinha menos uns anitos bons. Em Massamá tivemos períodos com muito pouco dinheiro, e a gente ia-se mantendo... Porque era um pessoal, de facto, muito resistente. Havia ali um ambiente de camaradagem, de despreocupação e maluqueira, isso havia. Vivia com o meu filho Paulo. Tentei arranjar para lá um casal, ou dois ou três, para haver uma senhora que fizesse de mãe do Paulo, para ele ter um bocado de companhia.
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O Paulo é, aliás, quem aparece mais neste livro...
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O Paulocas é o pivô do livro. Eu aluguei a casa de Massamá para evitar que ele fosse para a Casa Pia. O [Carlos] Manaças não queria que o miúdo ficasse lá em casa mais tempo... E eu tive que vir à Casa Pia, aqui no Bairro Alto, para autorizar a ida dele, mas lá onde devia assinar a autorização escrevi: «Não quero o meu filho na Casa Pia», e fui-me embora, muito satisfeito! Aluguei então a casa, de quatro assoalhadas, só paredes, sem água nem luz nos primeiros tempos. A água e a luz ainda era como o outro, havia uns truques... Agora a renda era implacável, e era muito alta: um conto e trezentos.
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Arrepende-se muito de alguma coisa que fez, ou que não fez?
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Isso não vale a pena, não vale a pena porque é inútil. Recordo algumas coisas e penso: olha que maluqueira! Mas não me vou arrepender. Isso não me diz nada. O que dá é isto: às vezes estou para aqui a fazer um balanço e a testar a memória, para ver como é que ela está. Começo a dizer os nomes dos reis todos, com as alcunhas, ou o nome dos rios afluentes do Douro e do Tejo... Na minha vida às vezes também penso, e estou aqui a comentar coisas que fiz e que foram um disparate, algumas maldades, claro que fiz algumas...
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Da fama não se livra...
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Ah, isso sei eu... Mas não as sabem todas, não as sabem todas! Tenho uma fama danada. Simplesmente, a fama não me irrita nada. Houve agora um filme aí [Luiz Pacheco, Mais um Dia de Noite, com realização de António José de Almeida]... Eu recusei-me a ver, porque não vou agora desmentir o que eles lá dizem. Chamei àquilo filme-cangalheiro: morte minha e aquilo ia logo nessa noite para a televisão! Mas há para lá muita aldrabice. Recusei-me a ver antes e agora... Mas chegam-me cá os ecos, as marés. Não será de propósito, mas há lá pessoas que também já estão com a cabeça um bocado... O Mário Soares é mais velho do que eu.
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E vai candidatar-se à presidência...
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Pois é, ainda bem. Acho isso muito giro. Eu vou votar no gajo. Ele não vai candidatar-se se tiver muitas dúvidas sobre o resultado, não vai arriscar... E é um bom adversário para o Cavaco. O Manuel Alegre pode ser um grande poeta, bom tribuno e um gajo muito giro, com pinta, mas não tem o prestígio nem o conhecimento de anos e anos de governação do Soares. E o Soares tem muito cuidado com a saúde. Depois de almoço está sempre meia-hora a dormir. É muito cuidadoso. Se formos a ver aquilo como bravata é giro, acho graça, acho graça...
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Como é que olha hoje para a sua família, para a sua descendência? É uma espécie de lastro anárquico que deixou na Terra...
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Também não é tão caótico assim. E não estão mal... Que eu saiba estão todos bem. Há um filho de quem eu não sei nada que é o nº 3. O nº 4, que é o Luís Zé, o que foi educado na Casa Pia, está bem, casado, com dois filhos, está nos seguros... Outra foi para África, depois foi parar à Turquia, casou lá, não faço ideia nenhuma do que é feito dela... Ela nunca veio aqui. Alguns nunca vêm cá. E os que vêm não vêm cá muito, de mês a mês, nos anos... Estão ocupados, não é? E eu também já estou em lares há muito tempo, desde 1996 acho eu. Mas eles dão-se bem. Nesse aspecto foi um bom êxito porque é possível que tivessem más recordações de infância – e tinham mesmo. Mas vá lá, vá lá, não foi tão mau como isso...
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E bisnetos, já tem?
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Não. Tenho uma bisneta que é uma cadela, porra! Porque agora a moda não é ter filhos, é ter cães. A minha neta mais velha, do Montijo, filha do João Miguel, comprou uma cadela siberiana, branca, aliás muito bonita, comprou-a por 60 contos ou não sei quê... Não tenho bisnetos, mas podia ter. É a pílula... Não há mão nos filhos quanto mais nos netos. Os pais que os aguentem...
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A sua vida mais libertina e aventurosa teve muito mais vitalidade nos anos do Estado Novo do que depois do 25 de Abril... É só uma questão de idade?
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Não sei... Mas essa vida de libertinagem era um pouco anti-Estado Novo, era um bocadinho uma forma de reagir ao País que tínhamos. E a bebedeira, também era um bocado isso. Não sei... Não me deu para isso, talvez. E depois um gajo vai amolecendo. Eu já era muito livre antes da liberdade do 25 de Abril.
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Lendo este Diário Remendado dá ideia de que as suas preocupações pessoais o fizeram passar um bocado ao lado do fervilhar político e ideológico do pós-25 de Abril...
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Isso é verdade, é verdade. Mas eu quando vinha a Lisboa a alguma coisa, uma manifestação ou assim, não ia escrever... Mesmo o texto do 25 de Abril foi escrito bastante depois do dia – toda a gente andava a contar «o meu 25 de Abril», aquilo meteu- -me raiva, e também fiz «o meu 25 de Abril»! Limitei-me a contar aquilo que se passou: foi um dia em que saí à rua para beber uma cerveja, estava a rever provas, e o meu barbeiro viu-me na rua e disse-me «Ó Sr. Pacheco, venha cá ouvir a rádio, há revolução em Lisboa!». E, tal como estava, lá fui para Lisboa. Estive no Carmo, depois fui atrás do chaimite que levava o Marcelo – foi uma multidão que foi atrás, andava lá feito massa, inteiramente pateta... Aquele entusiasmo com a mudança do regime, para mim quebrou logo no próprio dia 25, ou 26, quando vi a Junta de Salvação Nacional. Quando vi as caras daqueles gajos... O Rosa Coutinho e o Pinheiro de Azevedo, tinham um ar apagado mas simpático, mas depois o Costa Gomes, o Spínola e o Galvão de Melo, um nazi chapado, e um Neto qualquer que tinha vindo de Angola... Nesse momento caíram-me um bocado os tomates aos pés. Aquele cartel não tinha saída, como de facto não teve. E tudo me parecia uma estupidez: o País não ia mudar por causa de uma merda aqui no Carmo, o País não muda assim de um dia para o outro. Ainda hoje, não mudou tanto como isso. Às vezes parece que há uns golpes de mágica e tudo muda, mas não é realista...
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O funeral de Álvaro Cunhal marcou-o?
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Não. Não quis estar a emocionar-me com isso. Mas se fosse lá tinha-me emocionado, com certeza. É uma reacção natural... Uma coisa que ainda me emocionou foi o enterro dos ‘Tarrafalistas’, os gajos que tinham morrido no Tarrafal, que saíram numas urnas pequeninas da Sociedade Nacional de Belas-Artes para o Alto de São João, num cortejo cheio de gente... Já foi há muito [1978]. Ainda estou inscrito no PCP, tenho as quotas em dia. Mas nunca estive com o Cunhal. O Cunhal não era o tipo de pessoa que se encontrasse a passear no meio da rua. Não era fácil de encontrar...
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E o Nobel da literatura para Saramago deixou-o feliz?
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Com certeza que sim. Fiquei. Aí a raiva de muita gente não foi contra o escritor – que não lêem – nem foi contra o próprio Saramago – que não conhecem de parte nenhuma –, foi contra o comunista que ganhou o Nobel. E também contra o gajo que ganhou cento e tal mil contos! Inveja em estado puro. Eu fiquei muito satisfeito, mesmo. Nem é questão de saber se escreve bem ou não. O Saramago não é um grande escritor. Mas o Nobel não é um prémio literário: premeia a carreira, uma obra, com aspirações sociais. Pode não ser um grande romancista mas é um tipo pessoalmente muito correcto, muito a sério. Lidei com ele no Diário de Lisboa e era de uma correcção como é raro encontrar nos jornais.
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Sacrificou muitas vezes o seu conforto, a sua vida pessoal, em nome da literatura. Hoje sente orgulho por isso?
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Não... Tenho é a vantagem de receber um subsídio mensal. Ou nem podia estar aqui. Hoje recebo 120 contos, é o máximo que dão. E isso devo-o um bocado ao Santana Lopes, é verdade. Quando foi secretário de Estado da Cultura, a Maria João Duarte dizia-lhe muitas vezes que eu tinha um subsídio muito pequeno, e escreveu n’A Capital a dizer isso... O Santana Lopes prometeu que ia pensar no assunto, se podia fazer alguma coisa. E fez, isso é que foi o grande espanto! Na altura não agradeci nada. Mas quando saiu aquela edição bonita da Comunidade mandei-lha para a Figueira da Foz e ele mandou-me uma carta a agradecer. E o Soares também não me deu só 20 paus, como parece que diz no filme, deu-me 650 contos, que é muito dinheiro. E ele não fala disso, podia falar e não fala.
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Como é que gostava de ser recordado na história da literatura portuguesa?
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Como editor é importante. A parte de produção é muito pequena... Um artigo num jornal pode ter impacto nesse dia, mas publicado, em livro, anos depois, já perdeu muita da sua força. Tenho a Comunidade, o Libertino (é um bocado o efeito da Casa Pia ao contrário...), o Teodolito, que acho que é o meu melhor texto... E a razão principal da publicação deste diário agora é porque eu preciso de dinheiro. Estou a pagar aqui no lar uma coisa chamada «mil euros» – mais as fraldas que me põem à noite, e os medicamentos que são caros. E não recebo isso por mês. Tenho que ter umas bengalas...
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Como é a sua vida aqui?
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Estas casas são uma espécie de quartel e de hospital, têm horários, têm turnos, comida muito igual e muito aldrabada... Um dia de manhã fui ali ao jardim [Príncipe Real] e senti-me muito maldisposto não sei porquê, e tiveram que me ir lá buscar de cadeira de rodas. Nunca mais saí. Isso já foi há uns três anos. Nem vou lá abaixo ao rés-do-chão. Estou aqui isolado do ambiente do lar, que não é um ambiente muito elegante... Eu é que já devia estar habituado... Mas é um ambiente pavoroso, só velhos e velhas – e chatos! Quer dizer, isto não estimula nada. Não os querendo ver não vou lá, que eles também não vêm cá. A questão da vista e do ouvido é que é mais pior.
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Qual é, hoje, o seu maior prazer?
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É o arroz de pato, uma vez por mês, mais ou menos. E bem feito! É um prato que tem aí muita fama. O que é que esta gente pode desejar de melhor?

19.11.09

Arquitectura-pimba

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O mono de Troufa-Real que está a nascer no Restelo.

18.11.09

Tomás da Fonseca

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"o livro mais anticlerical de sempre, que desmonta e denuncia a grande e espectacular mentira de Fátima, humilhando a Igreja e a padralhada em geral"
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[Luís Oliveira, editor da Antígona]

16.11.09

Recordações da Casa Amarela

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A não perder hoje, às 19.30, na Cinemateca, Recordações da Casa Amarela, de João César Monteiro.
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Aqui ficam os minutos iniciais do filme:
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13.11.09

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AVÉ AVÔ CESARINY
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Um homem solitário a caminho da praia +
o bulício das intrigas de café +
uma conversa desconexa +
uma fórmula minimal repetitiva +
um sub-real encadeante +
quezílias imorais sociais –
1 poeta e pintor feliz =
Avé Cesariny, positivo e negativo
poetoupeira lasciva
debochado dada
abissalmente graficomposto
agoniado ou bem disposto
lacónico animal subterrâneo
roupa suja para lavar em máquina eclética.
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[Tiago Gomes, in Viola-me Eléctrica, Fenda, 1998]

12.11.09

Manuel Hermínio Monteiro

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Vai passar hoje, às 21.30, na Cinemateca, o documentário de André Godinho sobre Manuel Hermínio Monteiro.
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Entretanto deixo aqui uma conversa de Herminio Monteiro com Rodrigues da Silva, publicada no Jornal de Letras nº 565, de 4 de Maio de 1993:
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UM BICHO DA TERRA
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Dirige a Assírio & Alvim, fala como um poeta e acha que há quem leia de mais… e pense de menos. Vive em Lisboa e o mundo é o seu livro. Mas o seu universo é o campo. Lá longe, em Trás-os-Montes
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Tem 40 anos, mas diz que nasceu no século passado. É Manuel Hermínio Monteiro, o responsável editorial da Assírio & Alvim, e esta de ter nascido no outro século justifica-a ele porque a aldeia donde é natural (Parada do Pinhão, concelho de Sabrosa, distrito de Vila Real), ficava, na altura, tão longe da civilização que dos meninos se dizia, não que eram trazidos pela cegonha, nem que vinham de Paris, mas… do Porto.
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Hermínio, primogénito de uma família de quatro irmãos («quando casaram, a minha mãe tinha dezasseis anos, o meu pai dezassete, e a seguir nasci eu»), passa toda a infância na aldeia, no seio de uma comunidade rural que só na década de sessenta vai assistir à chegada do primeiro automóvel e do primeiro rádio. Hermínio, quanto a ele, o comboio (a vapor) vai vê-lo apenas quando o levam à estação mais próxima (Abambres), para, com mudança na Régua, ir sozinho a caminho do Porto e daí rumo a Arouca, onde, como interno, irá frequentar o Colégio dos Salesianos.
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Tem agora 11 anos de idade, vê pela primeira vez o mar, mas dessa infância de outro século guarda a memória de avós volframistas, gratas recordações e uma fidelidade à terra que ficará para a vida inteira: «Ouvia as histórias dos velhos, divertia-me nos arraiais; hoje percebo que tudo aquilo correspondia a uma cultura autónoma, mas extraordinariamente rica. Não havia homem que não tocasse vários instrumentos, no mínimo gaita de beiços; fazia-se muito teatro, havia festas, representações. Depois, a guerra colonial, a emigração, com a circulação do dinheiro, e, daí a nada, a televisão foram desagregando culturalmente estas comunidades. Isso reflecte-se na construção civil, por exemplo, e no salve-se quem puder».
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A ida para os Salesianos, para, em princípio, ser padre, terá sido o salve-se quem puder do Hermínio? Ele acha que não, que, mais do que uma subida social, os pais, camponeses pobres, viam nisso uma fuga à claustrofobia rural. Só que, no seu caso, a essa claustrofobia outra se iria suceder, a do colégio, sediado como era num convento fundado por D. Mafalda, irmã de D. Afonso Henriques. «Aquilo era medonho, cheio de silêncio e de sombras» – diz ele. Os avós, esses, do neto diziam: «Coitado do nosso menino, a viver sem lume nem vinho».
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Adeus juventude
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Feito o 5º ano do liceu, Hermínio muda-se para o Porto, para, como externo, frequentar o Colégio Almeida Garrett. Dois anos sem história, a menos que a história, num certo sentido, comece aqui: «Vi-me a fazer trabalho social ligado à Igreja. Sou crente, respeito as religiões todas, mas não me revejo na Igreja Católica actual, uma estrutura de poder. Nessa altura, porém, era um campo de acção». Como – acrescenta – as Associações de Estudantes, mais tarde, em Lisboa, cidade aonde Hermínio iria aportar, para frequentar a Faculdade de Direito («eu gostava de poesia e como, nas selectas literárias, os poetas de quem eu gostava eram todos formados em Direito… foi Direito que eu escolhi»)
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A escolha revelar-se-ia absurda, mas traria Hermínio do Norte que é seu («sou completamente transmontano») para uma Lisboa, onde, de início, se sentirá de passagem («nas casa onde vivia, tinha sempre as coisas embrulhadas, à espera de me ir embora; como o imigrante que sabe que um dia há-de voltar ao local de origem»).
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De passagem embora, Hermínio, na capital, continuará a descobrir o mundo. Nem sempre a melhor parte dele. Como irá contar: «Por causa do trabalho nas Associações de Estudantes fui preso pela Pide e levei muita porrada. Depois, como era refractário à tropa, fui parar a Caxias e fiquei uma semana isolado numa cela. Seria solto no Carnaval de 1974, mas, com a prisão, acabou a minha juventude e o período lírico das comunidades onde vivia».
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Do Carnaval de 1974 ao 25 de Abril foi um passo. Um passo que Hermínio iria dar no direita volver do serviço militar, como soldado raso. Com o 11 de Março de 1975, contudo, o soldado Hermínio, colocado, com o seu metro e oitenta e tal de altura, na Polícia Militar, irá viver o PREC em todo o seu esplendor: «Fui eleito para a Assembleia Democrática da Unidade e levava aquilo tudo muito a sério. Se o Exército era para o povo, não podia andar abandalhado. Muitas vezes, na PM, diziam que eu era simpático, mas um bocado reaccionário, porque, com esse sentido de tolerância que aprendi com os velhos da aldeia, achava que era preciso parar para pensar».
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Com o 25 de Novembro, o PREC parou de vez e Hermínio, devolvido à vida civil, pensa regressar a Trás-os-Montes, Mas não regressa. Ligado à Assírio & Alvim, como vendedor, já desde antes do 25 de Abril, na empresa irá continuar. E, na Universidade, troca Direito por Letras, em cuja Faculdade irá concluir o curso de História, tendo como colegas Elísio Summavielle, Nuno Ribeiro, Pedro Borges, António Eloi, Jorge Pulido Valente. De professores recorda outros tantos: Cláudio Torres, Rui Rocha, Vítor Wladimiro Ferreira, Manuel Rio de Carvalho, Piteira Santos.
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Com o canudo debaixo do braço e a média de 16 valores, Hermínio é convidado para assistente. Recusa, para dar aulas, sim, durante meia dúzia de anos, mas no ensino secundário, e sem deixar a editora. Guarda boa recordação dos alunos, não tanto da escola como instituição: «As escolas deviam ser centros de ética. Quanto à História, seria preciso humanizá-la».
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Não só a História (ou o seu ensino), mas tudo o resto – diz Hermínio a cada passo. Assim ou destoutro modo: «Sou incapaz de sobrepor os livros à amizade e acho mesmo que há pessoas que lêem de mais. Deve-se ler o essencial e ter tempo para reflectir, para gerir as ideias novas. A cultura tem de ser uma coisa orgânica e a leitura tudo menos um “passe-vite”. Ora há por aí indivíduos que se estudam uns aos outros como se estivessem num campo de batalha. A vantagem da minha biografia é perceber que há gente analfabeta que tem uma relação equilibrada com aquilo que a rodeia, gente sábia, afinal».
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A «phala» da Assírio
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Qual a sabedoria de Hermínio, como editor? Ele não diz, refere apenas que «apesar da crise», a situação é «desafogada». Paga a horas, não tem dívidas, o resto é o segredo do negócio, um negócio que dá emprego fixo a treze pessoas.
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E à parte isto? À parte isto, há o principal: um projecto editorial que se procura coerente e do qual ele é o rosto visível. E o intérprete: «Tentamos fazer um traço da cultura deste século ao nível da edição. Um traço que vem de Pascoaes e de António Patrício, passa pelos heterodoxos do Modernismo e da Presença, o Ângelo de Lima e o Edmundo Bettencourt, depois pelos surrealistas, a poesia dos anos 60 até à melhor da mais recente, recuperando, pelo caminho, praticamente toda a gente de “O Tempo e o Modo” da primeira fase. Em suma, editamos quem não pertence à estética e à cultura dominante, com ênfase na Poesia».
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«A Phala», a revista da editora, integra-se neste projecto. E na visão que Hermínio tem da vida. No editorial do número, escreve ele, criticando a política cultural do Governo: «Gostaríamos que os livros e os seus conteúdos deixassem de ser para nós apenas uma trincheira». Isto porque o húmus principal da sua actividade vai ele próprio buscá-lo ao contacto com os outros, poetas em especial: «O editor que só consulta catálogos, cava a sua ruína, a menos que só edite best sellers para ganhar dinheiro. É preciso ouvir as pessoas, ter vivências».
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Vivências – o título que Hermínio escolheria para o seu primeiro livro… se o publicasse, e seria de poesia. Mas (para já?) não o publica. Actividade paralela por actividade paralela, tem agora o partido que está a ajudar a fundar: o Partido da Terra. Recusa-se, contudo, a ser político («sou de esquerda, mas nunca pertenci a partido nenhum»). No fundo – diz – «com isto queremos dar oportunidade a independentes de concorrerem às eleições. Emprestamos-lhes a sigla».
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A sigla e uma filosofia segundo a qual «o essencial» está por construir. E o essencial – diz Hermínio – é «o lado mágico da vida, o sentido poético das coisas, a ligação ao cosmos do que há de mais válido no Homem, a solidariedade. Sem isso, a sociedade em que vivemos não passa de um vime soprado ao vento».
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E o vento sopra lá fora, ouve-se no escritório da Assírio, nesta manhã de Abril. E chove também, a bom chover. «Que raio de dia» – desabafo. Hermínio, responde: «Deixa chover, que faz falta no Alentejo e lá para cima no Norte». Pensava eu que estivera a falar com um editor, vai-se a ver e, de princípio ao fim, ele revelara-se o que é e sempre foi: um bicho da terra.

9.11.09

Ruas da Amargura

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Ruas da Amargura, belíssimo documentário de Rui Simões sobre os sem-abrigo de Lisboa, está agora em exibição nas Amoreiras e em Alvalade.

4.11.09

A Comédia de Deus

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A Comédia de Deus (1995), de João César Monteiro, hoje, às 22h, na Cinemateca.

2.11.09

Nas livrarias

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Embora ainda se encontre a edição da Fenda, com tradução de Pedro Támen, a Antígona lançou uma nova tradução dos Cantos de Maldoror de Isidore Ducasse, Conde de Lautréamont. O tradutor é o poeta Manuel de Freitas e o prefácio é de Silvina Rodrigues Lopes.