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"Uma doce alegria percorre-me o corpo, ainda antes dos meus lábios se unirem para pronunciar a palavra sul, como um beijo ansiado. Um sopro meridional que me anima e antecipa a palavra mágica, que me aquece o olhar e habita o olfato de uma inexplicável doçura, como se dispensasse a necessidade de a pronunciar.
O Sul continua a ser uma transgressão, que me sujeita ao sacrifício da travessia da ponte e exige o ritual da espera do ferry, para finalmente me escancarar o horizonte e entregar à volúpia dos mistérios.
Este Sul, que eu amo e de que sinto uma necessidade tão prosaica como pão para a boca, só existe uma vez transposta a fronteira do rio, como ponte móvel que me une as margens interiores.
Entre uma e outra, fica a nostalgia da minha ambição apátrida, apenas vislumbrada quando as minhas costas selam os labirintos do Norte, para que o meu olhar se abandone à plenitude do Sul."
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[Jorge Fallorca, in A Cicatriz do Ar, edição do autor (feita pela frenesi), 2009]
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