13.5.10

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“Braschi ceou a sós comigo e, durante a refeição, praticámos extravagâncias sem fim. Poucos indivíduos no mundo serão tão lúbricos como ele e não existe outro que melhor entenda toda a investigação possível que existe no deboche. A cada passo mandava que triturasse os alimentos que ele comia; eu humedecia-os com a língua e passava-lhos à boca. A minha boca, lavava-a também com os vinhos que ele queria beber e, por vezes, soprávamos no rabo antes de engolir. Se por acaso surgia à mistura um cagalhão, o papa era elevado às nuvens.
- Ó Braschi! – exclamei num momento de verdade. – O que diriam os homens a quem te impões, se pudessem ver-te no meio destas baixezas!
- Devolver-me-iam o desprezo que por eles sinto – disse o Santo Padre – e, apesar do orgulho que têm, chegariam põe certo à conclusão de quão absurdo isso seria. Devemos continuar a cegá-los, que importa! O reino do terror não será longo, há que aproveitá-lo.
- Sim, sim – exclamei – enganemos os homens, que é dos melhores serviços que podemos prestar-lhes… Vamos imolar algumas vítimas no templo a que depois iremos?
- Com certeza – respondeu. – Para as orgias serem boas é preciso que o sangue corra. Sentado no trono de Tibério, imito-o na volúpia e, como ele, não conheço ejaculação mais deliciosa do que aquela em que os suspiros se misturam ao som gemente da morte!
- Entregas-te muitas vezes a tais excessos?
- Raro é o dia em que não mergulhe neles, Juliette! Não existe ponto do corpo que não suje de sangue…”
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[Marquês de Sade, in Dissertação do Papa sobre o Crime seguida de Orgia, trad. Aníbal Fernandes, & etc, 1976]

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