20.9.10

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“… por muito desenfadado o tom destas conversas críticas à lareira elas não revelam menos por isso de um intenso conhecimento do meio literário e de um plano fundamentado e premeditado. O qual seja, para não estarmos aqui com embustes ou ambiguidades escusadas: fazer o que geralmente não vejo que se faça, isto é, aclarar publicamente tramas que se ocultam, apontar flibusteiros das Letras, pondo-lhes a careca à mostra embarrilando-os pela gargalhada: sempre que preciso, denunciar os compromissos de vária ordem em que se atolam os nossos pseudointelectuaizinhos que por aí andam a governar-se à larga, seguros da sua impudência e da sua impunidade mercê das circunstâncias. Quem me conheça um tanto, sabe que outra coisa não tenho tentado durante vinte anos de editor, sacrifícios muitos e as consequências por vezes molestas, mas cá me vou aguentando, embora lhes pese. Não parti com muitas ilusões (isto desde 1945) nem as mantenho hoje muito menos, mas aposto que alguma coisa se conseguiu. E por meu intermédio, gente honesta e franca, de bom-senso e bom gosto, riu à vontadinha de contrafactores tão declaradamente cómicos como eram e são os drs. Urbano, Salema, Nemésio, David e mais espantalhos quejandos.”
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[Luiz Pacheco, Notícias Luanda, 17-10-1971, in Figuras, Figurantes e Figurões, O Independente, 2004]

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