25.10.10

"... o espaço dedicado à crítica tem vindo a diminuir drasticamente; estamos hoje reduzidos ao modelo da pequena recensão com intuitos de divulgação (a crítica propriamente dita requer um discurso argumentativo que o modelo jornalístico actual não contempla e até evita); a literatura perdeu o espaço e o prestígio que tinha e o 'espaço público' literário é de uma grande exiguidade; as páginas dedicadas à literatura têm de competir no grande campeonato da cultura do espectáculo; o crítico deixou de saber para quem escreve. A velha função social e de orientação que a crítica teve perdeu-se quando deixou de existir a sociedade cultural e literária vital e reactiva (com os seus debates, as suas polémicas, etc.), que constitui a própria condição de possibilidade da crítica. Destituído da sua função civil, o crítico desapareceu, tal como desapareceu a figura do intelectual. O primeiro foi substituído pelos mediadores culturais, tal como o segundo pelos profissionais da opinião."
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[António Guerreiro, Actual (suplemento do Expresso, 23-10-2010]

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