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“Aparecia na taberna do cais de tempos a tempos, em intervalos regulares. Podia ver-se-lhe os olhos muito verdes, o rosto tuberculoso, as mangas já rasgadas. A pouco e pouco, sem querer, foi-se habituando a um ritual preciso: o empregado trazia-lhe um copo de aguardente e, ainda a meio caminho, o homem começava a fixá-lo. Estabelecia com o copo sobre a mesa uma relação imperturbável e secreta. Nascia-lhe a pouco e pouco e nítido um sorriso. Estendia depois o braço na direcção do copo, transparente, molhado, e rodava-o, em quartos de volta, como se desenhasse uma carícia. Erguia-o assim à altura dos lábios e bebia de uma só vez o líquido. Deixava sistematicamente que um pouco de aguardente se entornasse e espalhava-o, com as costas da mão, pelas partes da cara mais próximas da boca. Pousava em seguida o copo, sempre devagar, e continuava a olhá-lo ainda durante algum tempo. Por fim, com a mesma lentidão e o mesmo olhar, procurava de novo o empregado.”
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[José Amaro Dionísio, in Sião (org. Al Berto, Paulo da Costa Domingos e Rui Baião), frenesi, 1987]
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[José Amaro Dionísio, in Sião (org. Al Berto, Paulo da Costa Domingos e Rui Baião), frenesi, 1987]
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