“Em tempos não muito longínquos surgiu o problema das ‘grandes superfícies’; agora, a escala da grande superfície transferiu-se para o próprio formato dos livros, que passaram a ter um tamanho imponente, demagógico, ameaçador. O que podemos dizer de mais seguro sobre o que se passou este ano é que este complexo de gigantismo atingiu o seu mais alto grau e não será ousado concluir que as editoras portuguesas produzem, em medida, os maiores livros do mundo. Como se explica este fenómeno? Por uma guerra civil de conquista de espaço, que faz das livrarias um campo de batalha onde um exército de combatentes para ganhar posição, tem de expulsar os combatentes inimigos, porque não há lugar para todos. A lei do maior – em superfície – e do mais exuberante – na apresentação – é uma das tácticas do combate. […] À entrada de uma livraria, o leitor deverá saber que vai atravessar um campo de hostilidades, uma parada agressiva de uniformes de guerra de onde é preciso fugir. O espectáculo é sem redenção e sem salvação. Perante ele, apetece muitas vezes fazer greve, recusar a compra de um livro que até nos interessa, mas tem uma capa indigna, com inscrições publicitárias demagógicas e dimensões paranóicas.”
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[António Guerreiro, Actual (suplemento do Expresso), 30/12/2010]
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