25.6.07

Eduardo Prado Coelho: os livros de bolso

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Livros de Bolso

Apesar de algumas tentativas mais ou menos goradas, a verdade é que existe uma tradição em Portugal que diz que os livros de bolso não são viáveis. Não sei se isto se explica por qualquer traço específico do que alguns pensam ser a “identidade nacional”, se existem condições económicas e culturais que justificam esta lamentável situação. Com uma notável excepção: os livros policiais, em particular as famosas colecções Vampiro e Xis. Da Vampiro lembro-me bem como preencheu horas a fio da minha adolescência – li os seus cem primeiros títulos que culminavam nesse clássico absoluto que era O Imenso Adeus, de Raymond Chandler. E recordo-me ainda dos livros da RTP, que continuam a aparecer à venda nas ruas.
Mas estas colecções surgiram no meio de outras tentativas mais ou menos fracassadas. E a sensação de que não havia condições na indústria do livro português para colecções de bolso acabou por dominar. Um livro de bolso justifica-se através de uma tiragem significativa que implica hábitos de leitura que até há pouco não existiam em Portugal. Será que hoje existem? Não estou certo, mas a verdade é que os índices são animadores, e o que foi um aumento de vendas nas feiras do livro de Lisboa e Porto parece autorizar algum optimismo. Será talvez por isso que as Publicações Dom Quixote enveredaram por esse caminho e estão a transportar algum do seu amplo e excelente fundo editorial para o formato de bolso. Ainda só os vi de relance numa livraria, mas é óbvio que se trata de uma iniciativa importante.
Ao mesmo tempo, três das nossas melhores editoras resolveram associar-se para criar outra colecção de bolso. Trata-se da Assírio & Alvim, que é sobretudo a grande editora de livros de poesia, com Herberto Helder e Ruy Belo à cabeça, da Relógio d’Água, com uma magnífica edição de poesia portuguesa ou traduzida e notáveis livros do pensamento contemporâneo, e da Cotovia, onde se destaca a tradução de clássicos, o teatro, ou a literatura brasileira.
Estes editores (Manuel Rosa, Francisco Vale e André Jorge) são por si sós uma garantia da qualidade deste projecto. Que saiu para já? Com o intuito de produzir “acontecimento”, os três editores abalançaram-se a lançar de uma só vez nove livros. Houve uma escolha criteriosa e um enorme cuidado na execução do projecto. Temos assim: a Ilíada, de Homero, na excelente e celebrada tradução de Frederico Lourenço; logo a seguir o Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes, agora traduzido com um saber impecável por José Bento; e depois um livrinho curto, mas central na nossa literatura: a Mensagem, de Pessoa, em edição exemplar de Fernando Cabral Martins; depois um livro que nunca li, mas de que toda a gente tem uma recordação encantada, Três Homens num Barco, de Jerome K. Jerome; passamos para os poemas de Sá Carneiro, também sob a responsabilidade de Cabral Martins; entramos na literatura russa, pelas mãos competentes de Nina Guerra e Filipe Guerra, com Contos de São Petersburgo, de Gogol; passa-se para um nome famoso, Virginia Woolf, com Orlando; e terminamos com O que é a Filosofia?, de Ortega y Gasset. Um programa magnífico. Desejo que tenha os apoios e o êxito que merece. Não se trata do melhor dos contributos para o Plano Nacional de Leitura?
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[Eduardo Prado Coelho, Público, 22-06-2007]

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