25.10.07

“Considero-me um homem culto”


Foi este o homem que Cavaco Silva entendeu ter o perfil adequado para Secretário de Estado da Cultura:

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K: Porque é que está sempre calado ao pé do Primeiro-Ministro? Porque é que quando foi para o Parlamento Europeu estava sempre calado, com ar de menino bem comportado atrás do professor Cavaco Silva? Porque é que quando está o Primeiro-Ministro se cala, sendo o Secretário de Estado da Cultura? Porque é que deixou, porque é que admitiu que fosse o Primeiro-Ministro a dizer aquelas coisas no Dia do Teatro? E porque é que não nos disse o que pensa, porque é que não falou para nós? Não sabemos nada do que é que pensa! Percebe? Não o conhecemos de parte nenhuma. O senhor não faz parte do nosso universo. Caiu, apareceu-nos aqui e ficámos todos, quer no teatro quer nas outras áreas, a dizer “mas o que é isto que agora nos apareceu?” E pronto. Tem 33 anos, não é nenhum velhadas horroroso, tem até bom aspecto, já é bom ...
P.S.L. Mas não pertenço ao universo ...
K: Não. Não tem nada a ver connosco.
P.S.L. Em relação a pertencer ao uni­verso, eu isso já tive a oportunidade de conferir e estudar... Nenhum dos meus colegas da cultura, nas Comunidades Europeias ... Eu não sou sempre uno, per­tenço ao que chama o universo ...
K: Mas não me respondeu: como é que caiu aqui?
P.S.L. Não sei, não é cair: foi o Primeiro­-Ministro que se lembrou, que me convi­dou. E eu devo dizer: a cultura ... Vamos lá ver. .. aliás o doutor Lucas Pires, na sua opinião um Ministro da Cultura exce­lente ...
K: Na minha opinião.
P.S.L. Pronto, na sua opinião. Ele é originário até das mesmas áreas do que eu; é um homem da Universidade, da Faculdade de Direito, da ciência política exactamente de onde eu sou.
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K: Acha que tem vocação para ser Secretário de Estado da Cultura?
P.S.L. Acho... acho. Acho que um político não deve pensar que é capaz de executar todo e qualquer cargo, embora eu entenda a política ou tenha uma visão que muitas vezes os inte­lectuais não gostam. Eu julgo que um político tem de ser alguém com uma formação razoá­vel ... uma formação e informação razoável e, depois deve ter uma capacidade de decisão e sentido político.
K: Acha que é um homem culto?
P.S.L. Considero-me um homem culto. Não... não... enfim. Não vou repetir afirmações incor­rectas que algumas pessoas fizeram quando eu tomei posse, mas não me considero um intelectual, nem o pretendo ser. Ainda no outro dia dizia por graça ao Primeiro-Ministro, “Não pense que me tornei num intelectual que nunca fui”. E ele olhou para mim com uma cara tipo “Agora, também este!”... Mas enfim... é o lugar que eu mais gostei de ocupar até hoje. É um lugar fascinante.
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P.S.L. […] O meu amigo Marcelo Rebelo de Sousa punha-me constantemente na Olá! Então, as pessoas tinham a ideia que eu adorava festas sociais, que adorava jantares, cocktails ou recepções, que é uma coisa a que vou tão pouco quanto possível. Gosto muito de dançar e gosto muito da noite. Gosto imenso de estar acordado quando ninguém está. De andar em Lisboa, quando Lisboa está a dormir.

[excertos de uma entrevista de Pedro Santana Lopes a Graça Lobo, Kapa nº 1, Outubro de 1990]

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