SALA DE ESPERA
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Cinquentonas adiposas
homens de bogode problemático
duas angustiadas estéreis
outras duas parideiras
velhos parados na sua velhice
funcionários tão públicos
uma adolescente esburacada
a mãe catastrófica
o jovem lamentável casal
uma miúda que só olha
um avô despedaçado,
todos na mesma fila que eu
para os comprimidos.
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[Pedro Mexia, in Vida Oculta, Relógio D'Água, 2004]
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REFLEXOS DO REAL
Fecho os olhos...
...putas receosas da violência,
advogados babando-se
preparando a papelada;
domésticas conformadas,
indiferentes à crucificação legal
duns imigrantes expiatórios
(sejam todos pequenos pintassilgos
a ver talk-shows de audiência máxima);
sejam padres agradáveis à vista e
pedófilos na sacristia,
sejam drogados a arrumar carros ou
contabilistas enferrujados em calmantes
(nasce um novo sentido
para sodomia social consentida);
sejam os políticos, as peixeiras,
os bebâdos da tasca mais próxima ou
os polícias na esquina sossegada;
sejam os actores, os taxistas,
os jogadores de futebol bem pagos ou
os estudantezecos penitentes
ao sistema que os criou e despreza
(o feitiço, o feiticeiro, o cliché,
o lugar-comum ou o provérbio,
o ditado popular é sempre igual).
Sinto a angústia generalizada
da falta de princípios,
objectivos ilusórios, incutidos
numa almofada amarrotada,
rota, podre, porca e suja
onde adormeço violado
dia após dia,
necessito de citar
pelo casulo injusto da raiva,
de nomear só pelos nomes
as tribos que critico;
só assim terei a vaga ideia
de como me nomear a mim mesmo.
in s&m (sem-nome & mal-dito)
2001
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