3.12.07

Viva o Português de quatrocentas calhoadas ao minuto

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Foi este o texto que Fernando Assis Pacheco escreveu para a contracapa da primeira edição de Walt, da Bertrand, agora também recuperado pela Assírio & Alvim:
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"Este livro é uma prosa acerca dos malefícios da guerra entendidos no tempo do inefável Marcial Caneta, quando se falava do Vietnam «por coisas da causa». «Causa» que ninguém desposava; «coisas» que ficaram, alarves, para a gente conhecer enfim como puderam ser, e porquê. Não tenho por isso nenhum remorso de estilo. Eu queria apenas dizer «Gare Marítima de Alcântara», «Lisboa», num ano qualquer entre 1961 e 1974.
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Meto na prosa soldados, civis, incivis, chulos e putas, eu próprio estou lá, disfarçado de narrador-alferes, choro à bruta, gozo como um Cabinda, narro, minto, finto o leitor, apetecia-me mandar o país Portugal ao tota, mas em segunda leitura sou um tipo basto moral e paro a meio palmo do traço proibido – ternuras! Quem grita no salto para o desconhecido é o meu preclaro comandado Frank Camiões.
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O coração em brasa pelos indefesos, xandras incluídas, vem do tempo em que eu aprendia jornalismo. Atenção à Brenda, esse pedaço de coxa! E ao Joe Louis, afilhado inevitável! Bebi em todas as barras de zinco de Lisboa até encostá-los ao peito.
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Literatura-literatura, bah. Noutra altura talvez. Viva o Português de quatrocentas calhoadas ao minuto, que é por onde respiro!"

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