25.5.08

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"Guilhermina Gomes, directora editorial do Círculo de Leitores, numa entrevista poblicada na «Única» do passado sábado, defendia com estas palavras um programa editorial muito abrangente: «Eu não posso, nem devo, exercer um juízo de valor dizendo: este é um leitor menor, consome lixo.» Trata-se de uma daquelas frases que afirmam aquilo que negam e dão nome ao que não querem nomear. A hipótese de um livro se ter tornado objecto de uma indústria do lixo em grande escala encontra confirmação no espectáculo nauseabundo que a maior parte das livrarias - os terminais da produção - hoje oferecem. Muitos outros sectores produzem tanto ou mais lixo, mas a nenhum deles foi dado o privilégio de proclamar impunemente que trabalha para o progresso espiritual dos homens, da nação e do mundo em geral. Os livros que são em si uma coisa boa, os leitores que por o serem já estão a cumprir os desígnios culturais que lhes garantem a passagem para um estatuto de maioridade: eis o discurso que editores e agentes oficiais da promoção da leitura repetem incansavelmente e encontra eco nos «boulevards» da opinião. Dessa massa indiferenciada e acrítica salvam-se os livros dotados de uma resistência que os protege dos seus amadores e até (às vezes, sobretudo) dos seus autores."
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[António Guerreiro, no Actual (suplemento do Expresso) de ontem]

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