13.9.08

A recuperação cyborg

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“a partir dos anos 60 assistiu-se a uma progressiva demolição e substituição, de uma forma insensível para o contexto histórico e patrimonial e muitas vezes medíocre, do tecido arquitectónico que caracterizava a Lisboa romântica dos finais do séc. XIX e dos inícios do séc. XX.
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Nos anos 70 inventou-se uma forma de intervenção arquitectónica única para Portugal, a que decidi chamar “recuperação cyborg”, por constituir o conceito mais híbrido e inconcebível para uma intervenção num edifício histórico, que constitui um organismo em unidade indivisível.
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Um bom exemplo deste tipo de intervenção constitui o edifício Heron Castilho da Rua Castilho, no gaveto em frente do projecto de Conceição e Silva. A essência deste tipo de intervenção resume-se a manter intacta uma fachada, agora transformada numa “pele” descontextualizada do seu corpo original, tal como numa operação plástica de cosmética, para depois, tal como num cyborg, e após a destruição total do seu organismo interno, lhe inserir uma estrutura high-tech com aumento considerável de pisos, como um implante alienante mas “justificado” pelo alinhamento de cérceas com um dos lados da envolvente.
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No presente, praticamente todos os projectos de recuperação apresentados para as Avenidas propõe a demolição integral dos interiores e, de forma mais ou menos moderada, uma intervenção dentro desta filosofia cyborg.”
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“A situação ilustra um drama sempre presente em Portugal: a ausência de arquitectos formados e dedicados exclusivamente à conservação e ao restauro; e a inexistência de historiadores de Arquitectura com formação académica em História de Arte, e portanto ligados ao tratamento da História da Arquitectura numa perspectiva civilizacional, na tradição das humanidades e das letras.”
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[Sérgio Rosa de Carvalho, artigo no Público de 9/9/2008]

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