16.10.08

Dinis Machado na Ler nº 72 (3)

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“«Let’s get out of here», dizia ele, era a frase que mais se ouvia nos filmes americanos. Ele, o Dinis Machado, foi meu colega de trabalho e meu amigo – meu amigo ainda é – durante mais de 10 anos.
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Conheci-o na Íbis, uma editora que ficava algures na Venda Nova, e onde ele era editor da revista Tintin e de livros policiais e de cowboys, nos idos de 68. Eu passei a traduzir in­ve­rosímeis livros onde o herói às vezes morria na página 20 para ressuscitar na página 53 e foi assim que entrei, pela ­porta das traseiras e pela mão do Dinis Machado, no mundo da edição. Foi também nessa colecção, com um pseudónimo «ameri­cano», que ele publicou a trilogia policial que agora ­é reeditada pela Assírio e Alvim.
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Mais tarde partilhámos a mesma sala durante muitos anos sem eu saber que para além dos seus múltiplos interesses, que iam da literatura e do cinema, de preferência americano, à Volta a Portugal em Bicicleta, que acompanhara muitas ­vezes enquanto jornalista, ou ao futebol, ele estava a escrever um livro, de que nunca falava e que mais tarde me mostrou para saber a minha opinião. Era O Que Diz Molero e foi um choque. Um choque primeiro para mim, quando o li, e depois para o Dinis Machado, quando o sucesso lhe desabou em cima.
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Tudo começou com um artigo do Luiz Pacheco e a partir daí foi uma onda que não parava de crescer. O Dinis Machado foi, nessa altura, e com razão, um homem feliz. Ainda hoje O Que Diz Molero é lido por novas gerações e eu, que o reli há pouco, não lhe encontrei nem uma ruga de idade.
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Mas falando ainda do Dinis Machado que então conheci, era um homem discreto, grande fumador, dado a raras mas tempestuosas fúrias, que passavam depressa, mas também a uma grande ternura pelas pessoas de quem gostava, especialmente a mulher e a filha e os amigos que vinham já da infância no Bairro Alto e que ele conservava. Era um admirador incondicional do Citizen Kane, que conhecia pormenorizadamente, de Orson Welles ou de James Cagney, dos filmes ­negros dos anos 40 e 50, e era capaz de falar deles entusias­ticamente. Numa época em que a minha geração se interessava par­ticularmente pela literatura e pelos filmes franceses, ele mantinha-se fiel às suas paixões de sempre.
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Aprendi muito com ele e recordo com muita saudade os tempos em que convivíamos diariamente, os mais felizes ­como os mais difíceis, os do sucesso e os da ressaca do sucesso.
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Um beijo amigo, Dinis Machado e let’s get out of here!”
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[Maria Piedade Ferreira, Ler nº 72]

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