26.11.08

2 anos sem Mário Cesariny (9 de Agosto de 1923 - 26 de Novembro de 2006)

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a antonin artaud
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I
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Haverá gente com nomes que lhes caiam bem.
Não assim eu.
De cada vez que alguém me chama Mário
de cada vez que alguém me chama Cesariny
de cada vez que alguém me chama de Vasconcelos
sucede em mim uma contracção com os dentes
há contra mim uma imposição violenta
uma cutilada atroz porque atrozmente desleal.
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Como assim Mário como assim Cesariny como assim ó meu deus
……….de Vasconcelos?
Porque é que querem fazer passar para o meu corpo
uma caricatura a todos os títulos porca?
Que andavam a fazer com a minha altura os pais pelos baptistérios
para que eu recebesse em plena cara semelhante feixe de estruturas
tão inqualificáveis quanto inadequadas
ao acto em mim sozinho como a vida…..puro
eu não sei de vocês eu não tenho nas mãos eu vomito…..eu
não quero
eu nunca aderi às comunidades práticas de pregar com pregos
as partes…..mais vulneráveis…..da matéria
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Eu estou só neste avanço
de corpos
contra corpos
Inexpiáveis
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O meu nome se existe deve existir escrito nalgum lugar «tenebroso
……….e cantante» suficientemente glaciado e horrível
para que seja impossível encontrá-lo
sem de alguma maneira enveredar pela estrada
Da Coragem
porque a este respeito — e creio que digo bem —
nenhuma garantia de leitura grátis
se oferece ao viandante
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Por outro lado, se eu tivesse um nome
um nome que me fosse…..realmente…..o meu nome
isso provocaria
calamidades
terríveis
como um tremor de terra
dentro da pele das coisas
dos astros
das coisas
das fezes
das coisas
.
II
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Haverá uma idade para nomes que não estes
haverá uma idade para nomes
puros
nomes que magnetizem
constelações
puras
que façam irromper nos nervos e nos ossos
dos amantes
inexplicáveis construções radiosas
prontas a circular entre a fuligem
de duas bocas
puras
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Ah não será o esperma torrencial diuturno
nem a loucura dos sábios…..nem a razão de ninguém
Não será mesmo quem sabe…..ó único mestre vivo
o fim da pavorosa dança dos corpos
onde pontificaste…..de martelo na mão
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Mas haverá uma idade em que serão esquecidos por completo
os grandes nomes opacos que hoje damos às coisas
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Haverá
um acordar
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[Mário Cesariny, in Pena Capital, Assírio & Alvim, 2004]

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