27.11.08

Poesia Incompleta

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A notícia da abertura de uma livraria independente é sempre um acontecimento a festejar, mas se essa livraria se dedica em exclusivo à poesia e está recheada de fundos de catálogo e livros raros e esgotadíssimos em todo o lado, isso constitui uma visão do paraíso.
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É o que acontece com a Poesia Incompleta, uma nova livraria dedicada à poesia, que abriu as portas na 2ª feira, na Rua Cecílio de Sousa, nº 11 (entre o Príncipe Real e a Praça das Flores).
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O espaço é pequeno mas muito simpático e acolhedor, a selecção de livros é irrepreensível e o livreiro, Changuito, é mesmo um livreiro a sério, daqueles que informam, aconselham e metem conversa com os clientes. Serei certamente visita regular da casa. Para já, na primeira visita, excedi largamente todo o meu orçamento possível e imaginário ao deparar-me com uma série de coisas que há muito procurava.
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É muito interessante a criação nesta zona da cidade de um pequeno circuito de excelentes livrarias (Trama, Poesia Incompleta, Letra-Livre) todas relativamente próximas umas das outras. Sendo certo que somos poucos os leitores de poesia, fundos de catálogo e outras coisas mais ou menos “marginais”, numa altura em que fnacs e bertrands reduzem drasticamente estas áreas, tenho esperança que sejamos suficientes para manter este circuito.
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Sobre a Poesia Incompleta, o José Mário Silva deixou uma reportagem (com muitas fotos) no Bibliotecário de Babel e a Isabel Coutinho escreveu um artigo para o Público de 3ª feira. Deixo aqui este último:
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"Poesia? Mas isso dá dinheiro?"
25.11.2008, Isabel Coutinho
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Poesia Incompleta é uma livraria de poesia em Lisboa
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Poesia Incompleta é o nome da "primeira livraria portuguesa de poesia", que abriu ontem em Lisboa, no n.º 11 da Rua Cecílio de Sousa, entre o Príncipe Real e a Praça das Flores. A um passo da Assembleia da República e do bar Finalmente, numa casa que até tem um quintal com uma buganvília e uma pequena hera que veio da Grécia pela mão de Hélia Correia. Sala a sala, estante a estante, vamos encontrando livros novos, mas também esgotados e raros. Todos relacionados com poesia ou com poetas, publicados em várias línguas.
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Este é um sítio aonde se vai para comprar livros, mas também para conversar com Changuito, jovem livreiro com sentido de humor aguçado, que aprendeu a gostar de poesia com a avó e também com a mãe, a actriz Maria do Céu Guerra. Numa estante da livraria Poesia Incompleta há uma máquina de escrever muito velhinha e em cima da secretária, que serve de balcão, está pendurado um enorme "poster" com três retratos de Mário Cesariny. O poeta é um dos "super-heróis" de Mário Guerra, ou melhor, de Changuito, como gosta de ser tratado. Há muitos anos a explorar o bar do Teatro da Barraca, onde organiza a animação cultural, teve também um bar na Bica, em Lisboa, onde também vendia livros. Aos 34 anos, perdeu a paciência e farto de ir a livrarias onde lhe diziam "esse livro está esgotado" ou "esse livro não existe", resolveu passar de leitor a vendedor de livros.
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"Poesia? Mas isso dá dinheiro?" foi uma das perguntas que mais lhe fizeram quando começou a dizer que queria abrir uma livraria que vendesse especificamente poesia. "Ah, isso é um acto poético", também lhe disseram. Uma pessoa de quem ele gosta muito reagiu: "Isso é a última aventura surrealista!" Às vezes, diz, olham para o projecto como se fosse uma coisa de malucos. "Que engraçado, então uma livraria de poesia. Mas vai ter só poesia?", perguntam. É verdade que no Porto já existe a Poetria, mas além de poesia também vende teatro.
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Para o projecto ser viável, tem que vender cinco livros por dia e Changuito acredita que isso é possível: "Se houvesse uma livraria destas com a qual eu não tivesse nada a ver, passaria aqui pelo menos uma vez por semana."
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Confessa-se um leitor "caótico, desordenado, laxista, um bocadinho diletante" e quis reunir num mesmo espaço uma parte significativa daquilo que considera ser o melhor da produção poética.O espaço da Poesia Incompleta é limitado fisicamente, mas mesmo que a livraria estivesse coberta de estantes Changuito não teria à venda tudo. A livraria tem a sua marca pessoal. "O nome, Poesia Incompleta, é a única coisa que aqui não é ingénua", diz.
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A inspiração veio da obra Poesia Toda, de Herberto Helder. "O poeta pode ter essa ambição porque aquilo é realmente a poesia toda. Mas uma livraria, ainda por cima de poesia, será sempre manca. Ainda agora chegou aqui um rapaz que me falou de um poeta que eu não conhecia. São muitos mais os que não conheço e os que não tenho. O meu esforço vai no sentido de ter uma escolha inquestionavelmente boa. Não sei se o caminho desta livraria é para a completude. Espero que não, quero que seja um caminho para prestar um serviço bom, mas sempre aberto a incompletudes."A livraria tem tudo o que ele acha que tem qualidade. Livros novos e esgotados, portugueses e estrangeiros, uma secção em crescendo de revistas e de áudio (de poetas a dizerem-se). Os exemplares do esgotadíssimo A Faca Não Corta o Fogo, de Herberto Helder, já têm destino: vão para clientes que os reservaram. Mas um deles está a ser leiloado no blogue da livraria (http://www.poesia-incompleta.blogspot.com/) com uma base de licitação de 15 euros. Os interessados podem fazer propostas por e-mail.
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Do que tem à venda na livraria, destaca o novo livro de Carlos Mota de Oliveira, Logo, em Porto Formoso, e Comércio Tradicional, de Vítor Nogueira, Cobra, de Herberto Helder, o livro mais caro que tem neste momento (500 euros), Para Uma Cultura Fascinante, de Ernesto Sampaio, e um CD de Pablo Neruda a dizer a sua poesia. A Poesia Incompleta está aberta de segunda a sábado, das 10h00 às 19h45. Há livros a partir de 2,5 euros.

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