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"Exemplo triste e eloquente da aberração que se tornou regra: a capa da mais recente reedição de As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino (Teorema), tem letras prateadas e em relevo. Calvino é um dos grandes escritores do século XX e este livro é dos mais importantes da sua obra. Não é literatura de quiosque nem se destina às massas. Tentar traficá-lo desta maneira dissimulada é um péssimo serviço prestado pela editora. Mas esta é a regra em que vivemos no campo editorial: os livros são editados visando os «consumidores» que não os vão ler e pondo à distância os leitores que sabem o que querem ler. E como esta é a regra, as livrarias portuguesas tornaram-se um imenso bazar de capas coloridas, o que desafia qualquer capacidade de orientação: é tudo igual a tudo e até um livro de Carl Schmitt (imagine-se) vem disfarçado de subliteratura. A sobreprodução editorial, sem fim à vista, dá ao espectáculo um aspecto exasperado, onde se consuma sem pudor a lei da economia que tem sido transposta para outros campos: a má moeda expulsa a boa moeda."
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[António Guerreiro, Actual (suplemento do Expresso), 27/12/2008]
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