29.7.09

AINDA NÃO
.
Ainda não
não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar
.
ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem
.
ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia sera
inda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer
.
ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça
.
ainda não há camas só para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração
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[António José Forte, in A Perspectiva da Morte: 20 (-2) Poetas Portugueses do Século XX (selecção e prefácio de Manuel de Freitas), Assírio & Alvim, 2009]

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