30.4.10

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[Brassaï, La Présentation, Chez Suzy, 1932]

29.4.10

Feira do Livro

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Começa hoje a 80ª edição da Feira do Livro de Lisboa. Vai estar no Parque Eduardo VII até 16 de Maio, das 12h30 às 23h30 de segunda a sexta e das 11h00 às 23h30 aos fins-de-semana.

25.4.10

“Foi bonito e foi rápido. Já posso morrer mais descansadinho.”

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o meu 25 DE ABRIL
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Estou na cama de manhã e aproveito para apontar na Agenda o tempo que passa. Tinha ficado na véspera em casa a rever provas. O puto fora para o liceu. Resolvo ir à rua beber uma cerveja e continuar a revisão. Ao pé do chafariz, o barbeiro atira com esta: «então, o Marcello e o Thomaz lá foram ao ar...» Não percebo logo. Nem acredito como. Mas ele confirma: a Emissora Nacional não funciona, só o Rádio Clube Português é que dá música e de vez em quando comunicados breves. Já mais convencido, convido-o logo a festejar na tasca da Laurentina que era para onde eu ia. E depois, ainda duvidoso, vou com ele à barbearia a ver se oiço algum comunicado. Música ligeira, sem nada de marcial. Canções populares portuguesas, pouco mais. (Até a Amália, parece-me!). Mas passados minutos um comunicado do Comando das Forças Armadas. Aí, adquiro a certeza que é, deverá ser a repetição do golpe das Caldas, mas com outra amplitude. Refere que o público tem ocorrido às lojas, em tentativas de açambarcamento, e manda fechar o comércio. Aconselha a população a manter-se nas suas casas e as forças militares e militarizadas a recolherem aos quartéis e não oferecerem resistência à tropa. A coisa é grave. Parece que não há comboios e para lá de Sete Rios não se passa. Tenho algum dinheiro e resolvo logo ir ver (foi o melhor que fiz: ver para crer). Desço acelerado e vou a casa do Fernando Paços, perguntar se ele sabe alguma coisa. Se sabe não diz. Mas confirma. Acompanho-o à farmácia de Queluz Ocidental e depois (ele aconselha-me que não vá a Lisboa, pois não conseguirei passar – mas eu conheço outro sítio para entrar, ou sair, da minha terra e caminho acelerado. Muitos carros, em fuga discreta?) para cá. Em Queluz, já vejo lojas fechadas, outras a fechar à pressa e uma data de tontos a abastecerem-se para o ano todo... oiço que um tal comprou mais de cem pães. Rica açorda (ou negócio) deve ter feito com eles. Cafés fechados. Há comboios. Meto-me num para a Amadora, depois sigo a pé. No Bairro do Bosque (sempre o intenso movimento de carros a saírem), ainda consigo meter um copo. Não há jornais. Rostos, com as janelas fechadas, assomem entre cortinas. Tudo me dá a ideia de receio (mas em Queluz vi alguns magalas a planar, o que me deixou intrigado). Venho a pé até às portas de Benfica e o ambiente é o mesmo: fila de carros a safarem-se, comércio encerrado, mulheres com sacos de plástico cheios, tensão. Meto-me num autocarro da Carris, de Benfica para o Chile e fico-me um tanto a rir do Paços, que em Lisboa e a andar para o centro já eu vou. No Chile, só uma taberna aberta: bebo mais um copo, estou nas lonas. Animação. Um tipo ao meu lado compra oito maços de Português Suave, também está a açambarcar ou a fumar aquilo diariamente habilita-se a um cancro nos pulmões em beleza e rápido. Aparece gente com jornais (A Capital) e sei que estão a vender para os lados do Império. Vou logo lá, sento-me num degrau e sei as primeiras notícias. Tá bem! Resolvo ir a casa do Henrique, ver se ele estará. Na Carlos Mardel, uma senhora num 1º andar pergunta-me onde vendem jornais. Digo e ofereço-lhe o meu. O marido, que vinha à rua, fica com ele e eu fico reduzido a 30$00. Começo com sede e angústias. Estou em jejum e já andei um bom bocado. Penso ainda ir ao Manaças (António) mas desde a última vez, desde a nossa última conversa, ele não me está a apetecer. E depois, o importante deve estar a acontecer na Baixa. Enfio ao Montecarlo (fechadíssimo) mas consigo topar um tipo a bater à porta da Mourisca (também fechada) e entrar. É que há gente. Vou, bato, o Costa Loiro está a forrar vidros por dentro com papel, talvez com receio dalgum obus. Peço-lhe vintes e ele despacha-me. Meto à Rua Viriato e vou até ao quartel de Santa Marta (todas as tascas fechadas até ali). Dá-me vontade de rir ver os cabeças de nabo reunidos lá dentro, a falarem uns com os outros (é que obedeceram às ordens?). Mas logo ao lado há uma tasca restaurante, porta meio aberta, com gente e muito movimento (guardas a beber, outro a telefonar para casa e sossegar a mulher (?), diz que não há azar). Bebo uma Sagres e como uma sandes. E avanço para a linha de fogo, que não sei onde é. Metros andados, ouvem-se ao longe tiros e rajadas de metralhadora. Tipos que fogem. Mas onde será o tiroteio? Como a coisa parou, continuo a andar. Até que encontro, já não sei onde, o Almeida Santos e um tipo que é revisor no Diário de Lisboa ou Popular, já não sei. Metemo-nos num táxi que sobe pela Calçada do Carmo. Mas logo populares avisam (ah, entretanto, perto do Tivoli, já tinha comprado um Diário de Notícias, com mais informes) que a rua está bloqueada. O carro faz marcha-atrás e mete (por onde?) para o Bairro Alto. Bebemos não sei o quê numa tasca, o revisor vai à vida, o Almeida Santos pira-se e eu avanço para os lados do Carmo. Na Rua da Misericórdia, muita gente, tropa e um tanque de respeito. Da janela da Redacção da República, o Vítor Direito e o Afonso Praça (aquele grita-me: «estás muito bonito hoje!», eu levava o sujíssimo albornoz que me deu o Artur), noutra varanda o Álvaro Belo Marques, a quem pergunto: «como é que se entra para aí?», porque a porta da escada da República está fechada. «Vai pelas traseiras!». Vou mas também está fechada e logo à esquina aparece um vendedor com a última da República. É um verdadeiro assalto. Aí fico a saber dos chefes (Costa Gomes e Spínola) e o alvoroço é enorme. Já não sei bem: se vim ao Rossio, se de repente notei uma grande correria para o Terreiro do Paço. Sem perceber nada do que se passa, sigo a onda. No Terreiro do Paço, começa a chover. Há correrias e encontro uma rapariga que me conhece muito bem mas não topo logo. É a Maria João, a engenheira química, amiga do Henrique, com outro rapaz. Ficámos abrigados da chuva debaixo das arcadas, depois convenço-os a irem beber um copo ao Terreiro do Trigo (Campo das Cebolas?), não sei já se estava aberto se não. Ela tem o carro no Camões e para aí vamos. Mas o Chiado está cheio de gente, que quer assaltar a Pide. Já não sei se ouvi tiros. Vi ainda as (uma?) ambulâncias, depois quase à porta da Brasileira um rapaz ou homem com a mão cheia de sangue (seco?), que tinha agarrado num rapaz ou rapariga. Começam a chegar fuzileiros, há mais correrias, a Maria João e o rapaz perderam-se de mim. Cheira-me que já chega. Agarro um táxi e arranco para casa da Ção. Pela TV vi depois o resto. Foi bonito e foi rápido. Já posso morrer mais descansadinho.
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[Luiz Pacheco, in Diário Remendado, Dom Quixote, 2005]

22.4.10

RIFÃO QUOTIDIANO
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Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia
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chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a
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é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece
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[Mário-Henrique Leiria, in Novos Contos do Gin, Estampa, 1973]

19.4.10

Filmes proibidos antes do 25 Abril

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Está a decorrer na Casa da Achada - Centro Mário Dionísio mais um ciclo de filmes, desta vez com alguns dos muitos filmes que foram proibidos antes do 25 de Abril. É sempre às segundas-feiras, às 21.30, e a entrada é gratuita. Hoje vai passar Viridiana (1961), de Luis Buñuel.

17.4.10

"Sou, por temperamento, um vagabundo e um nómada. Não desejo ter dinheiro de uma forma tão intensa que me leve a trabalhar para o ganhar. Na minha opinião é uma vergonha trabalhar-se tanto por esse mundo fora. O facto de um homem não poder fazer mais nada durante oito horas por dia, dia após dia, é uma das coisas mais tristes que é possível imaginar. Não se pode estar a comer nem a beber durante oito horas por dia, nem se pode fazer amor durante oito horas - a única coisa que se pode fazer durante oito horas seguidas é trabalhar. Isto explica porque é que o homem provoca a si mesmo e aos outros tanto sofrimento e infelicidade."
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[William Faulkner, in Entrevistas da Paris Review, Tinta-da-China, 2009]

16.4.10

O Cheiro dos Livros

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O novo blog de Jorge Fallorca.

15.4.10

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“passei toda a minha juventude a escrever muito lentamente, a rever o que escrevia e a refazer tudo e a apagar e portanto escrevia uma frase por dia e a frase não tinha EMOÇÃO. Rai’s partam, é da EMOÇÃO que eu gosto na arte, não é da ASTÚCIA e da dissimulação das emoções”
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[Jack Kerouac, in Entrevistas da Paris Review, Tinta-da-China, 2009]

14.4.10

KIT
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Inicia-se a viagem
pelo teste do êmbolo,
a pureza das águas
naturalmente se resolve
na necessária fervura;
há que ter um cinto
à mão, correia
de transmissão
no aligeirar o aperto
de par com o afluxo;
nem na pequena prata
desdobrada em quatro,
nem nos algodão-filtro
a chama ou colher
especiais cuidados há que ter;
mas o ferro, o bisel da cânula...
o limão, o pó são a absoluta
madrasta da embolia.
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[Paulo da Costa Domingos, in A Escrita, & etc, 2010]

12.4.10

Ruínas

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Ruínas, filme de Manuel Mozos, em exibição no King (Lisboa) e no Cine Estúdio do Teatro Campo Alegre (Porto).

9.4.10

Acabados de chegar às livrarias

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Blues para uma Puta Velha, de Jorge Fallorca, & etc
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A Escrita, de Paulo da Costa Domingos, & etc