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“Casas estreitas, mal repartidas, decrépitas, ruas tortuosas onde escasseia a luz e o ar, canos insuficientes que estagnam debaixo dos prédios, por tempo indefinido, as imundícias e resíduos da vida – lixos, dejectos, que agora saem pelos barris e canos de esgoto, e logo tornam pela janela, em poeiras e exalações do solo e do ar contaminados, ou sob a forma de lamas, pela porta, agarrados aos pés dos moradores… Ruas varridas em seco, às horas vitais em que a população ainda moureja, ou não varridas nunca, numa terra em que a nortada imbecil, todas as tardes faz engolir aos transeuntes o esterco avulso das calçadas mal feitas e dos macadames nem petrolados, nem alcatroados, segundo a norma das terras higiénicas… Carroças de lixo a céu aberto, cheias de buracos e fendas, que por um lado apanham o esterco, e por outro o vão peneirando aos solavancos das rodas, por calçadas cheias de escaninhos… Esgotos horríveis, pestosos urinóis sem desinfecção nem limpeza regular, latrinas no sítio mais escuso e húmido das casas, onde os únicos líquidos são urinas ou águas corruptas da cozinha – madeiras podres e soalhos fendidos, por cujas frinchas os detritos infecciosos se anicham, lustres, constituindo nos entre-solos outros tantos focos de cultura – doenças contagiosas que passam, matam e vão renovando os inquilinos, sem que nenhuma desinfecção, pintura ou lavagem regular dos muros e soalho, ao menos sossegue o espírito contra a repercussão dos mortos nas novas gerações de moradores…”
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Fialho propõe como resposta a construção de novos bairros operários, arejados e higiénicos e repletos de equipamentos de apoio: jardins, bibliotecas, creches, ginásios, igrejas e sobretudo ricas escolas, “visto estarmos num tempo em que o Estado cria o dever de tomar a criança operária desde a creche, não a largando mais até restituir à sociedade o homem feito e independente”.
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(continua)
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