30.11.07

A Naifa "Monotone"

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Monotone
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Antes de saíres para o trabalho, arrumas à pressa o dia anterior
para debaixo da cama.
Guardas o coração ainda adormecido bem dentro do teu corpo
e esqueces essa canção que já não passa na rádio
mas que vive secretamente dentro de ti.
Fechas a porta à chave com duas voltas e sais.
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Os teus passos na escada fria soam ligeiros e apagam-se,
perde-se o rasto, easy listening,
guardas tudo para ti como um ex-dj...
assim partes, quase a correr.
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Parada junto à passadeira, protegida num gesto ledo
fixas o olhar na sombra dos carros que passam.
Esperas pelo Sábado,
pelo Feriado e as suas pontes,
pelas Férias para ouvires as tuas canções.
Sentes-te longe, silenciosa de luz.
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[João Miguel Queirós, de Veludo 038, & etc, 1998]

29.11.07

McGinjinha?

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A ASAE fechou a célebre Ginjinha, no Rossio, mas não há motivos para alarme. Vem aí a Ginjinha do futuro.

26.11.07

Expo

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"O caminho entre a EXPO e o Terreiro do Paço, que se chamou "caminho do Oriente" e se previa rasgado e aberto, está novamente fechado e vedado. Arame farpado, contentores, armazéns, montanhas de areia e um rio proibido. A EXPO é um subúrbio fisicamente desligado da cidade, não existe continuidade estética. Na zona de Belém, o Porto de Lisboa resolveu, no que chama projecto de "requalificação", construir um mamarracho, não muito longe dos Jerónimos e da Torre de Belém, que é um atentado à paisagem e que tapa o rio. Eu espero que o monstro seja demolido, como deve ser. Espero também que esta Câmara meta o Porto de Lisboa na ordem, o que nenhuma administração da cidade até hoje conseguiu fazer, e espero que o Governo perceba que, se não libertar o rio mata a cidade. Caminhando então para a EXPO, verificamos que a marina, projecto no qual foram investidos milhões, entrou em falência. Nem restaurantes, nem cafés, nem barcos, nada. Tudo está deserto e o vento faz estremecer a água do rio e sopra nos pontões que destilam abandono e melancolia. Junto ao Oceanário, o deserto avança. Raros e maus restaurantes, quase nenhumas esplanadas, e uma frente ribeirinha desaproveitada. Ao optar por instalar um centro comercial gigante no meio do recinto, isto tinha que acontecer. O centro comercial sugou toda a vida das ruas e das imediações, e toda a gente converge para a luz artificial e as lojas e restaurantes, deixando de lado um espaço ao ar livre que está vazio e rodeado de casas. Quanto às casas, a arquitectura é má, às vezes péssima, e não transcende a arquitectura de subúrbio com "upgrade" para burgueses."
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[Clara Ferreira Alves, no Expresso desta semana]

25.11.07

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TRISTE-FEIA
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Assim julgam ganhar o pouco
dinheiro da felicidade,
tão propício a luxos de estação.
Assim: na maior tristeza,
na reles promessa de um destino
que hesitam em chamar pelo nome.
Eu, de pé no autocarro cheio, não trabalho.
Terei sequer direito à palavra?
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Pouco importa. Limito-me a ver
a sincera mentira dos seus gestos,
a ilusão de estarmos aqui
como quem sobe, arduamente,
a Maria Pia. Olheiras, fedor
e escarros vão pontuando
as curvas já sem rio de chegarmos.
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É o preço que pagam ou recebem
para não serem felizes
e acharem por força que são.
Como dizer-lhes, de pé, que
não consigo gostar deste cemitério?
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Arrombo a casa sem porta,
termino já de rastos o poema,
abate-se sobre mim o que não quero.
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[Manuel de Freitas, in Blues for Mary Jane, & etc, 2004]

20.11.07

REPREENSÃO
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Depois de fuzilado
ao levar
o tiro na nuca para acabar
chateou-se
e viu-se obrigado
a explicar
ao major
que comandava o pelotão
que o tinha fuzilado
por favor
preste atenção
e não me obrigue a repetir
a repreensão
na próxima vez
que mandar matar
dê tempo ao morto
para gritar
convicto
um último viva a revolução
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[Mário-Henrique Leiria, in Contos do Gin-Tonic, 1973]

19.11.07

A VELHA E AS COISAS
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Verdade se diga que o país era pequeno, bem pequeno mesmo. Logo, é evidente, as coisas também tinham de ser pequenas, para caberem.
Daí os partidos. Havia o Partido Blicano e o Partido Crático; assim reduzidos, cabiam. Eram a Oposição.
Além disso, havia a Posição. O General, os Dois Coronéis, o Sargento (justicialista), o Professor Mustache, autor da Constituição e de «Cartas Patrióticas ao Corneta Pir» e a Velha dirigindo, claro.
Portanto as coisas lá iam, o comportamento geral era bastante aceitável, as cebolas vendiam-se a contento, o nabo aguentava-se, havia a nêspera e o export-import funcionava mais ou menos.
Mas também havia as eleições à porta. Era preciso tento, nada de imprevidências. E chamou-se o Galvez, dos Suplementos Literários, para montar o processo jurídico, organizar e levar o assunto a bom termo, como devia ser.
O Galvez organizou.
Leram-se as dignidades do preparo. O discurso activou-se e a pátria foi avisada que estava em perigo. Houve quermesses. A Velha explicou tudo ao país, mais uma vez, pela televisão. Elegeram-se misses e praticou-se música histórica, própria da conjuntura.
Assim se foram três meses, com várias bofetadas esclarecedoras aos que, pelos cafés, ainda não sabiam.
Então chegou o dia do voto. Todos deram o papel que lhes tinha sido entregue. Alguns espancamentos disciplinares, para clarear o voto, e a contagem fez-se.
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A informação foi a seguinte:
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Sopa de Feijão Branco (candidato Blicano)............. -- 13 728
O Bode (candidato Crático).....................................-- 13 727
D.ª Josefa Sur-Mer (candidata independente)......... -- 13 726
O General (candidato).............................................-- .......13
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Donde, conforme a Constituição, o General foi eleito de novo, por maioria absoluta.
Havia os seguintes impedimentos legais:
Sopa de Feijão Branco não residia há mais de cinco anos no país (inconstitucional, portanto).
O Bode era menor e não estava inscrito nos cadernos eleitorais (inconstitucional, evidente).
D.ª Josefa Sur-Mer não sabia Matemáticas Modernas, já residia há mais de cinco anos no país e, além disso, era Sur-Mer (totalmente inconstitucional).
Vendo o acontecimento, o Galvez ameaçou escrever para mais Suplementos, pondo tudo em pratos limpos, já que lhe parecia – tinha até provas – que Sopa era residente perpétuo.
O Galvez foi chamado. A Velha falou-lhe. O Galvez escutou. A Velha explicou-lhe. O Galvez era patriota. O Galvez ficou convencido.
Daí em diante o Galvez passou a negociar – com exclusivo próprio – na exportação da nêspera conservada, do pescado enlatado e da camisa em renda de bilros. Teve também o Turismo e o Gabinete Alfandegário.
Aqui se vê, portanto, que a coisa pública segui esclarecida, firma, como era de desejar.
No entanto, dado o tamanho realmente pequeno do país, como aliás já fiz notar, houve que fazer mais umas reduções. A Oposição passou a chamar-se só Ó e os Independentes, devido à situação económica e à outra, ficaram apenas Pendentes.
Visto isto, o Galvez foi de ministro plenipotenciário para Tombuctu.
Como dizia a Velha, no seu habitual «Colóquio à Lareira» pela televisão:
– Para a frente, meus filhos. A pátria nos contempla e o passado nos espera.
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[Mário-Henrique Leiria, in Contos do Gin-Tonic, 1973]

16.11.07

Contos do Gin-Tonic

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Foram reeditados pela Estampa os míticos Contos do Gin-Tonic, de Mário-Henrique Leiria.
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Estes contos foram editados pela primeira vez em 1973, sendo seguidos em 1978 pelos Novos Contos do Gin e uns anos depois Mário Viegas daria uma boa contribuição para uma relativa popularidade dos mesmos.
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A maioria dos contos é de dimensão muito reduzida, desde uns microcontos de poucas linhas (como os que deixei aqui no blog) até duas ou três páginas, raramente mais, estando todos eles recheados de surrealismo, subversão e humor sarcástico, sendo também evidente a marca do contexto político da época.
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Retirei da contracapa da minha edição esta apresentação do autor, feita para a primeira edição:
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“Mário-Henrique Leiria nasceu em Lisboa em 1923. Frequentou a Escola de Belas Artes, donde saiu apressadamente. Entre 1949 e 1951 participou nas actividades da movimentação surrealista em Portugal. Depois começou a andar de um lado para o outro. Teve vários empregos, marinha mercante, caixeiro de praça, operário metalúrgico, construção civil (não, não era arquitecto, carregava tijolo), etc., pelas terras onde andou: a Europa cristã e ocidental, o Mediterrâneo norte-africano, o Oriente Médio e até, dizem, os países socialistas. Não ia aos Balcãs porque tinha medo, todos lhe diziam que lá os bigodes eram enormes e as bombas estoiravam até no bolso. Um dia teve de passar por lá. Os bigodes eram realmente grandes, mas toda a gente sabia rir. Tirou o casaco e bebeu que se fartou. Em 1958 meteram-se-lhe ideias na cabeça e foi até Inglaterra, para aprender coisas. Não aprendeu e voltou. Entre 1959 e 1961 foi casado e não fez mais nada. Em 1961 foi para a América Latina donde voltou nove anos depois. Por lá conseguiu ser, entre outras actividades menos respeitáveis, planejador de stands para exposições, encenador de teatro e até director literário de uma editora. Fizera progressos. Agora está chateado, vive em Carcavelos e custa-lhe muito a andar.
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Tem colaborado em várias revistas e jornais nacionais e não só. Está publicado em algumas antologias, tanto aqui como no estrangeiro. Este é o primeiro livro que tenta publicar em Portugal.
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Realmente, está muito chateado.”
CARREIRISMO
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Após ter surripiado por três vezes a compota da despensa, seu pai admoestou-o.
Depois de ter roubado a caixa do senhor Esteves da mercearia da esquina, seu pai pô-lo na rua.
Voltou passados vinte e dois anos, com chofér fardado.
Era Director Geral das Polícias. Seu pai teve o enfarte.
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[Mário-Henrique Leiria, in Contos do Gin-Tonic, 1973]

15.11.07

CASAMENTO
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«Na riqueza e na pobreza, no melhor e no pior, até que a morte vos separe.»
Perfeitamente.
Sempre cumpri o que assinei.
Portanto estrangulei-a e fui-me embora.
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[Mário-Henrique Leiria, in Contos do Gin-Tonic, 1973]

14.11.07

HISTÓRIA EXEMPLAR
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Entrei.
– Tire o chapéu – disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
– Sente-se – determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
– O que deseja? – investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí.
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[Mário-Henrique Leiria, in Contos do Gin-Tonic, 1973]

13.11.07

Eléctrico 24

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A carreira nº 24 do eléctrico de Lisboa chegou a ter o percurso Cais do Sodré – Alto de São João, embora em 1997, quando foi desactivada, funcionasse apenas entre o Largo do Carmo e Campolide.
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O Fórum Cidadania Lisboa propõe agora, passados 10 anos, a sua reabertura, numa primeira fase apenas no troço Cais do Sodré – Campolide. Para tal lançou uma petição on-line, que já assinei, e que tem o seguinte texto:
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Description/History:
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Há mais de 10 anos, aquando do início das obras de construção do parque de estacionamento subterrâneo em Campolide, a linha de eléctrico que ligava o Cais do Sodré–Carmo–Principe Real–Rato-Amoreiras–Campolide, foi interrompida temporariamente, suspendendo-se assim uma das linhas de eléctricos mais importantes de Lisboa, turisticamente falando, mas não só. .De facto, aquela linha é toda uma espinha dorsal de Lisboa, facto entretanto agravado seja abertura de um interface no Cais do Sodré, seja pela crescente atractividade do Chiado e do Bairro Alto, de dia pela utilização diária dos habitantes e de serviços e dos turistas, à noite, em que milhares de pessoas acorrem ao local para os diversos locais de diversão e restauração. E este é um ponto demasiado importante para ser desconsiderado, já que uma das poucas zonas urbanas da cidade que é utilizada, massivamente, 24 horas por dia, está realmente congestionada, com poucas opções para mais estacionamento, tendo em conta os efeitos no edificado e em conjuntos protegidos e na perversidade de atrair mais trânsito a um local já de si limitado..Por isso, a reactivação desta linha de eléctrico, com um horário alargado, permitiria transportar todo o tipo de públicos que utiliza esta zona, a partir das zonas fronteiriças e exteriores ao casco urbano mais antigo, permitindo ou fomentando a utilização de parques automóveis noutras zonas da cidade.
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Petition:
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Considerando que, fisicamente, toda a linha de carris em causa ainda existe em todo o percurso, e que este é um investimento que, com toda a certeza, apenas trará vantagens à cidade;.Considerando que existe um protocolo entre a Câmara Municipal de Lisboa e a CARRIS, para activar a antiga carreira de eléctrico 24 (Campolide-Largo do Carmo), e que (segundo fonte da própria CARRIS) apenas se aguardava pela conclusão das obras no passadiço do Elevador de Santa Justa para a reactivar;.Considerando que as referidas obras já terminaram e que a própria Associação de Turismo de Lisboa (ATL) está fortemente interessada em que aquela carreira de eléctrico seja reactivada;.E considerando a elevadíssima pressão que existe actualmente sobre o eléctrico 28, a que só a criação de novas linhas e a reabertura de outras entretanto fechadas poderá obviar,.SOLICITAMOS À CARRIS E À CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA QUE DÊEM INÍCIO AOS PROCEDIMENTOS NECESSÁRIOS COM VISTA À REABERTURA, A CURTO PRAZO, DA LINHA DE ELÉCTRICO 24, DO LARGO DO CARMO A CAMPOLIDE, INCLUINDO A EXTENSÃO AO CAIS-DO-SODRÉ!.É que, bem divulgada, a carreira do eléctrico 24 reúne todas as condições para se tornar um novo ícone dos eléctricos da capital.
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Além do 24, este Fórum defende a abertura de uma nova linha de eléctrico de Benfica ao Parque das Nações, atravessando áreas muito populosas e com péssimos transportes.
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O mesmo Fórum lança ainda a ideia de novas linhas para a zona ocidental de Lisboa (Algés, Miraflores, Alfragide, Odivelas) e oriental (Santa Apolónia, Moscavide, Portela).
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Todas estas propostas podem ser lidas neste documento.

12.11.07

Um Dia por Lisboa

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À semelhança do que aconteceu por altura das últimas eleições para a Câmara de Lisboa, vai realizar-se hoje um debate sobre esta cidade no Teatro São Luiz, desta vez com o tema “Lisboa, Tejo e Tudo – o que fazer e não fazer com a Frente Ribeirinha de Lisboa”.
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A iniciativa tem início às 18h com a intervenção de Nuno Portas, Gonçalo Ribeiro Telles, Nuno Teotónio Pereira, Jorge Gaspar e Augusto Mateus, entre outros. Por volta das 21.30 inicia-se o debate com os responsáveis da cidade e da zona ribeirinha em particular: António Costa (a confirmar), Manuel Salgado e José Miguel Júdice, entre outros.
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A entrada é livre.
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Mais informações aqui.

8.11.07

Byblos

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O Jornal de Letras desta semana traz esta notícia surpreendente: vai ser inaugurada no próximo dia 6 de Dezembro a maior livraria do país, na zona das Amoreiras, em Lisboa (Rua Carlos Alberto Mota Pinto).
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O seu nome será Byblos e é um projecto liderado por Américo Leal, anterior proprietário da Asa. Trata-se de uma gigantesca livraria com 3300 m2 de área comercial e 150 mil livros disponíveis (a totalidade do catálogo das editoras nacionais)! Terá uma decoração “high-tec” e algumas curiosidades interessantes, das quais destaco a seguinte: tendo em conta a enorme quantidade de livros, aqueles que têm menor rotatividade estarão em armazém, mas basta ao cliente escrever num ecrã o título da obra, que esta virá até si através de um sistema robotizado! Além disso todos os livros terão um chip para permitir a clientes e funcionários encontrá-los com enorme facilidade.
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Além dos livros, a Byblos terá música, filmes, publicações periódicas, assim como uma cafetaria e um auditório com 100 lugares sentados, com a promessa de muitas actividades culturais.
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Estará aberta de Segunda a Sábado das 10 às 23 horas e aos Domingos das 10 às 13 horas.

7.11.07

Lisboa Monumental (4)

Para concluir esta série, deixo duas citações de Fialho que, mais de 100 anos depois, mantém uma preocupante actualidade:
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“Há muito até que para travar o génio porcaz, desorientado, idiota, que por esse país alastra em matéria arquitectónica, todos os edifícios públicos ou privados, em edificação ou restauro, deviam ter um conselho artístico por cujo voto os respectivos projectos passassem, e isto para tirar às vereações e comités locais, a brasileiros e mercantes cuja única função social é ganhar dinheiro, a intervenção nefasta que, em nome duma liberdade de que não sabem usar, se lhes tem dado na estética urbana do país.”
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“Temos, e teremos sempre, municípios inaptos para saberem amar com amor de artistas esta infeliz capital entregue em suas mãos, pois raro as vereações são cultas, dessa cultura especial que impõe pontos de vista, e atira o espírito para além das comesinhas questiúnculas de roupa suja e de marmita.”

6.11.07

Lisboa Monumental (3)

Um outro aspecto sobre o qual Fialho se debruça é a necessária “derrocada, ou pelo menos a larga desabridação dos bairros infectos de Alfama, Castelo, Mouraria, Alcântara e outros muitos onde a população trabalhadora se comprime, e mais ou menos são montureiras de gente, destruidoras da mocidade e vigor da raça popular”. E reforça que “ao derribar alguns destes redutos infames da tuberculose implacável, não devem os municípios dar ouvidos à arqueologia piegas que em certos bestuntos confunde o respeito das coisas artísticas com a monomania idiota de conservar tudo o que é velho”. Mais à frente descreve-nos desta forma estes bairros:
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“Casas estreitas, mal repartidas, decrépitas, ruas tortuosas onde escasseia a luz e o ar, canos insuficientes que estagnam debaixo dos prédios, por tempo indefinido, as imundícias e resíduos da vida – lixos, dejectos, que agora saem pelos barris e canos de esgoto, e logo tornam pela janela, em poeiras e exalações do solo e do ar contaminados, ou sob a forma de lamas, pela porta, agarrados aos pés dos moradores… Ruas varridas em seco, às horas vitais em que a população ainda moureja, ou não varridas nunca, numa terra em que a nortada imbecil, todas as tardes faz engolir aos transeuntes o esterco avulso das calçadas mal feitas e dos macadames nem petrolados, nem alcatroados, segundo a norma das terras higiénicas… Carroças de lixo a céu aberto, cheias de buracos e fendas, que por um lado apanham o esterco, e por outro o vão peneirando aos solavancos das rodas, por calçadas cheias de escaninhos… Esgotos horríveis, pestosos urinóis sem desinfecção nem limpeza regular, latrinas no sítio mais escuso e húmido das casas, onde os únicos líquidos são urinas ou águas corruptas da cozinha – madeiras podres e soalhos fendidos, por cujas frinchas os detritos infecciosos se anicham, lustres, constituindo nos entre-solos outros tantos focos de cultura – doenças contagiosas que passam, matam e vão renovando os inquilinos, sem que nenhuma desinfecção, pintura ou lavagem regular dos muros e soalho, ao menos sossegue o espírito contra a repercussão dos mortos nas novas gerações de moradores…”
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Fialho propõe como resposta a construção de novos bairros operários, arejados e higiénicos e repletos de equipamentos de apoio: jardins, bibliotecas, creches, ginásios, igrejas e sobretudo ricas escolas, “visto estarmos num tempo em que o Estado cria o dever de tomar a criança operária desde a creche, não a largando mais até restituir à sociedade o homem feito e independente”.
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(continua)

5.11.07

Lisboa Monumental (2)

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A mais grandiosa obra desejada por Fialho consistia numa “ponte sobre os vales da Avenida e Rua da Palma, ligando São Pedro de Alcântara a Santana, e esta à Graça ou Monte do Castelo”, cujo ambiente é imaginado desta forma:
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“Percorrer em manhãs e tardes essa avenida a 80 metros do solo, bordada de passeios e refúgios suspensos sobre mísulas, vendo por baixo vertiginosamente ferver a bicharia dos bairros pobres, a avenida estender-se em regueiros brancos e verdes, de asfalto e folhas de árvores, na estonteação do ar livre, com horizontes de voo de águia, seria um destes prazeres sibaríticos que os cogitadores de quimeras agradeceriam a Deus, como antevisão do paraíso dos maduros. Que vagabundagens por ali, nas noites quentes, perorando no ar pulcro, sobre a madorna bronca do burgo, as velhas questões que fazem chispar o olhito rugoso, de papagaio, de D. Gualdim!”
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Para coroar esta obra grandiosa era proposto um “palácio da Alcáçova” no Castelo de S. Jorge “com os atractivos e vícios que a gente culta e rica tem por passatempo, pois, além das capitais não engordarem hoje de virtudes, é certo que um pouco de deboche activa a civilização dos povos bisonhos, e é um maravilhoso factor de sugestões”. O palácio teria assim “roleta, mulheres, circos de Verão, teatrofones, música clássica, atlética, mascaradas, festas de carácter pitoresco e popular”, sendo uma espécie de “casino e circo, biblioteca e restaurant, velódromo e frontão, hall de concertos e teatro de ópera”. Toda a montanha em redor seria revestida de ciprestes.
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(continua)

2.11.07

Lisboa Monumental (1)

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A propósito de duas exposições de arquitectura reunindo trabalhos dos alunos da Escola de Belas Artes e da Sociedade Nacional de Belas Artes, Fialho de Almeida escreveu um longo texto, publicado em dois números da Ilustração Portuguesa, com o título Lisboa Monumental. Estávamos em 1906 e, ao mesmo tempo que criticava implacavelmente quase toda a arquitectura e urbanismo que se ia fazendo (a Praça Saldanha “cheia de casarões e cubatas imbecis”, a Av. Ressano Garcia em “estado de selvajaria boçal” ou o Palácio da Ajuda “com o ar de um quartel”, “no meio de uma aldeola indecente”), propunha um conjunto de obras grandiosas, uma Lisboa utopicamente monumental.

Este artigo foi depois editado em livro e reeditado recentemente pela Frenesi (em 2001) e vou passar uma vista de olhos por algumas das suas propostas:
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Para a rotunda do Marquês de Pombal sugeria Fialho quatro palácios nos pontos cardeais, que serviriam para as sedes de associações médicas, comerciais ou outras, intervalados por edifícios para concertos, exposições e também residências particulares. O parque, “com a rica grade forjada”, teria belvederes e cascatas de fontes.
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Uma questão que ainda hoje não está resolvida é a ligação entre os jardins da Escola Politécnica com a Avenida da Liberdade, para o qual Fialho propõe uma “entrada de estilo grille, um hemiciclo de estátuas ou colunas, onde muito bem podiam estar Brotero e Garcia de Orta”.

Para a entrada do Campo Grande, vindo da Av. Ressano Garcia (actual Av. República) sugere-se um grandioso arco do triunfo:
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Para a Avenida da Índia, que Fialho entendia dever ter o triplo da sua largura na época, propunha no relvão central “estátuas de todos os heróis das descobertas e conquistas, o que daria ao estrangeiro que entrasse o rio, com essa fileira de colossos, uma ideia senhoril do povo luso”.
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A Avenida da Liberdade podia “ir recolhendo nos seus relvões, de ambos os lados, todas quantas gentes merecessem da glória, e valesse a pena fixar na perpetuidade cultural das gerações”, mas aqui sob a forma de monumentos mais pequenos.
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A margem sul do Tejo, imagina-a Fialho como a zona industrial por excelência da capital, uma “outra grande Lisboa de forjas e martelos, a Lisboa fabril, eriçada de chaminés e fumos londrinos”, empurrando para lá as indústrias de Alcântara e Poço do Bispo, desobstruindo estas zonas “dos hangares, barracões e feios depósitos de mercadorias que ali se ajuntam, vedando ao lisboeta de gema a margem do seu Tejo”.
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Para ligar as duas margens deveria ser construída uma ponte para caminho de ferro e peões:
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(continua)